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EUA e Conselho de Segurança elevam tom após suposto ataque químico sírio

França e Estados Unidos destacaram a responsabilidade da Rússia nos supostos ataques

O presidente americano, Donald Trump, prometeu nesta segunda-feira (9/4) tomar "decisões importantes" sobre a Síria nas próximas 48 horas, aumentando a pressão sobre Bashar al-Assad.

A reunião do Conselho foi convocada por Estados Unidos, França e Reino Unido para discutir a situação após o suposto ataque com armas químicas contra civis na cidade rebelde de Duma, provocando indignação internacional.

França e Estados Unidos destacaram a responsabilidade da Rússia nos supostos ataques, ao considerar que Moscou não poderia ignorar os bombardeios aéreos feitos por Assad.

"O apoio militar russo e iraniano está presente no terreno e em todos os níveis do aparato de guerra sírio, e nenhum avião sírio decola sem que o aliado russo tenha sido informado", destacou o embaixador francês na ONU, François Delattre.

"Estes ataques (de 7 de abril) ocorreram, então, ou com o apoio tácito ou explícito da Rússia, ou apesar de sua presença militar. Não sei qual das duas variações é mais alarmante para nossa segurança militar", acrescentou.

A embaixadora americana na ONU, Nikki Haley, atacou a Rússia e o Irã em sua fala no Conselho.

"Rússia e Irã têm assessores militares nas bases aéreas do regime de Assad e nos centros de operações", reforçou. "Funcionários russos estão no terreno apoiando diretamente as campanhas de sítio do regime e forças iranianas realizam com frequência o trabalho sujo".

"Quando o regime militar sírio bombardeia civis, o faz com ajuda da Rússia", insistiu Haley.

Moscou desmentiu que o governo sírio tenha recorrido a armas químicas em Duma e advertiu que bombardeios aéreos ocidentais na Síria poderiam ter "consequências graves".

"Pedimos aos ocidentais que renunciem à retórica de guerra", disse na ONU o embaixador russo Vassily Nebenzia, durante uma reunião do Conselho de Segurança sobre a Síria. "Não houve um ataque químico" no sábado em Duma, acrescentou, mencionando "falta de provas".

Paralelamente, os Estados Unidos fizeram circular um projeto de resolução que pede a criação de um novo "mecanismo de investigação independente das Nações Unidas".

Em uma reunião de gabinete, Trump condenou o que chamou de um "odioso ataque a inocentes".

Forte reação de Washington

"Isso é sobre a humanidade, não se pode permitir que aconteça", declarou Trump, acrescentando que anunciará sua decisão nas "próximas 24/48 horas".

Nesta segunda-feira, o secretário americano da Defesa, Jim Mattis, apontou o papel da Rússia no ataque e advertiu que, por enquanto, não excluíam nenhuma opção.

Nesse sentido, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, apontou que Rússia e Irã tinham "responsabilidade" no suposto ataque, considerando que a Síria não poderia tê-lo realizado sem o "apoio material" de seus dois aliados.

O presidente russo, Vladimir Putin, condenou "o caráter inadmissível das provocações e especulações" sobre o suposto ataque com armas químicas. Anteriormente, Moscou havia insistido sobre a "necessidade de elucidar de maneira muito minuciosa" o que aconteceu em Duma.

Nesta segunda-feria, surgiu novamente o espectro de uma resposta militar após o disparo de mísseis contra a base militar T-4 do governo no centro da Síria, ataque que Damasco e Moscou atribuíram a Israel.

Washington e Paris, que ameaçaram Damasco com uma "resposta forte e comum" depois do ataque de sábado, negaram ter agido contra a base.

Reincidência

Há um ano, Trump ordenou bombardear uma base militar síria em resposta a um ataque com gás sarin atribuído ao governo sírio que deixou mais de 80 civis mortos em Khan Sheikhun (noroeste).

Segundo os Capacetes Brancos e a ONG Syrian American Medical Society, mais de 40 pessoas morreram no "ataque com gás tóxico" em Duma, na região de Ghuta Oriental, que o governo tenta conquistar em sua totalidade.

Damasco e Moscou desmentiram essas informações não verificadas por uma fonte independente. O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), que usa uma ampla rede de informantes na Síria, não pôde confirmar que houve um ataque com armas químicas.

Algumas horas antes do início da reunião do Conselho de Segurança da ONU, o chanceler britânico, Boris Johnson, pediu uma resposta internacional "forte".

O governo de Bashar al-Assad sempre negou sua responsabilidade nos ataques com armas químicas que lhe são atribuídos desde o início da guerra, em 2011.

Um vídeo divulgado pelos Capacetes Brancos, e apresentado como gravado após o suposto ataque em Duma, mostra corpos sem vida com espuma branca saindo de suas bocas.

A Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) anunciou que investiga essas informações.

O apoio militar de Moscou permitiu a Damasco reverter o curso da guerra, que deixou até agora 350 mil mortos, e reconquistar grande parte do território que havia perdido.

Sua ofensiva em Ghuta Oriental fez os grupos rebeldes se submeterem e aceitarem evacuar o enclave, bombardeado intensamente. Cerca de 1.700 civis morreram, segundo o OSDH.

Bombardeio atribuído a Israel

De acordo com o OSDH, o ataque contra a base T-4 matou 14 combatentes do governo sírio. Nesta base estão mobilizadas tropas russas e iranianas, indicou o Observatório. Teerã confirmou a morte de quatro "conselheiros militares" iranianos neste ataque.

Israel realizou muitos ataques contra alvos na Síria nos últimos anos, mas nesta segunda-feira não quis fazer comentários.

"Este ataque não teria sido possível sem o aval americano", declarou o Ministério sírio das Relações Exteriores.

Em fevereiro, Israel já havia atacado essa mesma base acusando as forças iranianas de terem enviado um drone para território israelense de lá. Depois de bombardear unidades iranianas na Síria, um F-16 de Israel foi derrubado pelo governo de Assad em uma das escaladas mais violentas do conflito.

Israel e Síria estão oficialmente em guerra.