Washington, Estados Unidos - O presidente americano, Donald Trump, aceitou na noite de quinta-feira (8/3) a proposta do líder norte-coreano, Kim Jong-un, para uma histórica reunião sobre a desnuclearização da península coreana, em uma inesperada reviravolta após meses de grande tensão bilateral.
O surpreendente anúncio foi feito em um dos jardins da Casa Branca pelo conselheiro de Segurança Nacional da Coreia do Sul, Chung Eui-yong, depois de uma reunião com Trump.
Não foram revelados, porém, nem o lugar, nem a data exata do encontro, que há até poucas semanas era totalmente impensável em meio às fortes tensões entre Washington e Pyongyang pelos programas balístico e nuclear da Coreia do Norte.
Chung, que na semana passada se reuniu com Kim em Pyongyang, disse ao presidente americano que, nessa conversa, o líder norte-coreano manifestou "seu desejo de se reunir com o presidente Trump o quanto antes".
Em resposta, Trump "disse que se reuniria com Kim Jong-un até maio para conseguir a desnuclearização permanente" da península, explicou o funcionário sul-coreano. Instantes mais tarde, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, confirmou que o presidente americano havia aceitado a oferta de um encontro "em um lugar e em um momento a serem definidos".
Washington - afirmou a porta-voz - deseja "a desnuclearização da Coreia do Norte. Para isso, todas as sanções e a máxima pressão devem continuar". No Twitter, Trump saudou os "grandes avanços" obtidos nos esforços para convencer a Coreia do Norte a abandonar seu programa de armas nucleares.
Fim dos testes nucleares
"Kim Jong-un falou de desnuclearização com a delegação sul-coreana, não apenas de um ;congelamento;. Tampouco haveria testes de mísseis na Coreia do Norte nesse período", destacou o presidente. "A reunião já está sendo planejada", acrescentou.
Em relação à data, funcionários sul-coreanos disseram à imprensa em Seul que o encontro seria possível no "final de maio".
[SAIBAMAIS]Chung ofereceu a Trump um detalhado relato de seu encontro com Kim em Pyongyang. "Disse ao presidente Trump que, na nossa reunião, o líder norte-coreano, Kim Jong-un, disse que está comprometido com a desnuclearização", contou.
Ele também transmitiu a Trump o compromisso de Kim de evitar "mais testes nucleares, ou de mísseis".
A abertura demonstrada por Kim Jong-un e sua vontade de discutir seu programa nuclear surpreenderam "um pouco" os EUA e levaram Trump a aceitar um encontro, admitiu o secretário de Estado americano, Rex Tillerson.
"O que mudou foi sua posição, e de uma forma bastante espetacular. E, muito francamente, foi um pouco uma surpresa para nós que se tenha mostrado tão aberto", afirmou Tillerson nesta sexta em Djibuti, ao fim de um encontro com o ministro das Relações Exteriores desse país, Mahamud Al-Youssouf.
"É uma decisão tomada pelo próprio presidente (Trump)", acrescentou Tillerson.
Reações
O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, celebrou o anúncio e disse apreciar "enormemente a mudança da Coreia do Norte de que vai começar as conversas sobre a premissa de uma desnuclearização".
Ele ressaltou, porém, que "não há uma mudança na política para o Japão, nem para os Estados Unidos". "Vamos continuar exercendo uma pressão máxima (sobre Pyongyang) até que a Coreia do Norte adote ações concretas para uma desnuclearização de uma forma que seja perfeita, verificável e irreversível".
Já a China, que garante 90% do comércio exterior norte-coreano, referiu-se à "coragem política" de Washington e de Pyongyang "para tomarem as boas decisões". Para a Rússia, o anúncio da cúpula é "um passo na boa direção", "necessária para normalizar a situação", disse o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, também manifestando sua satisfação com a reunião que está por vir.
Na mesma linha, hoje, a União Europeia (UE) classificou como o anúncio como "positivo". "Acreditamos que a disposição do presidente Trump para aceitar o convite de Kim Jong-un para uma cúpula em maio também represente um acontecimento positivo", declarou a porta-voz da diplomacia comunitária, Maja Kocijancic, em entrevista coletiva.
Em declarações nesta sexta, a chanceler alemã, Angela Merkel, viu essa movimentação como uma "luz no fim do túnel". "Vemos que uma resposta internacional unânime, que também inclua sanções, pode ser uma luz no fim do túnel", frisou a chanceler, em entrevista coletiva em Munique, convidando cada um dos atores a "continuarem os esforços".
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) disse esperar, por sua vez, que o encontro bilateral leve a "avanços concretos" na temática nuclear. "A AIEA acompanha de perto os recentes acontecimentos ligados ao programa nuclear" da Coreia do Norte, indica a agência em uma nota.
"Nós esperamos que esses acontecimentos levem a avanços concretos sobre a questão nuclear norte-coreana", afirma a AIEA, que se diz "pronta para contribuir para seu acerto pacífico, retomando (suas) atividades de verificação no país, uma vez que um acordo político tenha sido concluído entre os países envolvidos".