Madri, Espanha - Milhões de pessoas na Espanha participavam nesta quinta-feira (8/3), de uma greve geral sem precedentes convocada em defesa dos direitos das mulheres e marcada por marchas, piquetes e cancelamentos de trens.
Segundo os dois maiores sindicatos do país, Comisiones Obreras (CCOO, na sigla em espanhol) e UGT, 5,3 milhões de pessoas aderiram à greve esta manhã com paralisações de duas horas por turno de trabalho.
Outros dez sindicatos menores convocaram uma greve de 24 horas.
Milhares de pessoas com bandeiras e roupas na cor violeta estavam reunidas na Praça Cibeles de Madri, enquanto que, em outra praça central, a de Callao, mulheres jornalistas se preparavam para outra mobilização. Às 19h (15h de Brasília), haverá passeatas nas principais cidades do país.
"Muitas de nós renunciamos a promoções em favor da casa e da família", diz à AFP Paula Biempica, uma bancária de 39 anos que participa de uma greve, pela primeira vez, em Madri. Ela cria quatro filhos, dois seus e dois do marido.
"O mundo empresarial deveria facilitar a conciliação", sugere.
"Esta greve dá visibilidade ao desconforto e à discriminação que as mulheres sofrem", afirma Ana Reyes, uma executiva de relações públicas de 37 anos, pedindo "uma verdadeira mudança" em favor da igualdade.
Em dois dos principais meios de comunicação do grupo PRISA, o jornal El País e a estação de rádio Cadena SER, as repórteres faziam greve e a apresentadora Ana Rosa Quintana não transmitiu o programa da Telecinco que carrega seu nome.
Enquanto isso, as ruas de Madri e de Barcelona estavam menos movimentadas, e cerca de 300 viagens de trem foram canceladas devido à paralisação.
No momento, não há números da adesão à greve. Mas Pilar Morales, secretária da CCOO Mulheres em Madri, indicou que a adesão é "muito alta, especialmente nas grandes empresas", e que a greve está sendo "um sucesso".
As mobilizações acontecem em todo o mundo, com inúmeros atos, greves e marchas planejadas na América Latina (México, Chile, Argentina, Brasil, Colômbia, entre outros países). No Twitter, a hashtag #DiadaMulher em vários idiomas liderava os "trending topics".
Um dos dados mais repetidos na Espanha é que as mulheres recebem 14,2% a menos do que os homens, uma diferença, no entanto, inferior à média da UE (16,2%), de acordo com dados da agência europeia Eurostat.
Ou a diferença na taxa de emprego, que é de 65% para mulheres com filhos, 21 pontos a menos do que para homens, ainda de acordo com dados oficiais.
"O dia de hoje serve para promover um debate e conscientizar todos", declarou o presidente do governo, Mariano Rajoy, em um ato de seu Partido Popular (PP) em Valência.
"O exemplo de tantas mulheres anônimas me faz lutar mais e me empurra para frente", afirmou a presidente da câmara baixa do Parlamento, Ana Pastor, em uma mensagem recebida pelo canal de televisão La Sexta.
Pilar Cazorla, representante de um coletivo de camareiras de hotéis conhecido como Las Kellys, denunciou que as empregadas ganham entre dois e três euros por quarto e estão sujeitas a um grande estresse.
"Para um mesmo trabalho na mesma empresa, os salários devem ser os mesmos - o que é óbvio -, e quem não faz isso está errado e pagará", disse o presidente do Círculo de Empreendedores, Javier Vega de Seoane.
A Espanha tem tido destaque na luta feminista em razão de uma lei contra a violência sexista adotada em 2004, que foi pioneira e celebrada pelo Conselho da Europa como "um modelo". No ano passado, 49 mulheres foram mortas por seus parceiros, ou ex-parceiros, cinco a mais do que em 2016.
O dia de hoje foi precedido por uma polêmica interna no PP. A ministra da Agricultura, Isabel García Tejerina, e a presidente da região de Madri, Cristina Cifuentes, disseram que fariam uma "greve japonesa" nesta quinta-feira, consistindo em trabalhar mais. Rajoy não as autorizou, dizendo que não se reconhece nessa iniciativa.