Agência France-Presse
postado em 08/03/2018 07:30
Londres, Reino Unido - O ex-espião russo Serguei Skripal e sua filha, Yulia, ambos hospitalizados em estado grave enquanto os médicos lutam para salvar suas vidas, sofreram uma tentativa de homicídio com um agente nervoso, um crime no qual Moscou negou qualquer responsabilidade, denunciando uma campanha de difamação.
Os fatos, ocorridos no domingo na cidade inglesa de Salisbury (sudoeste), onde morava Skripal, constituíram "uma tentativa de assassinato mediante a administração de um agente nervoso", disse à imprensa, em Londres, nesta quarta-feira (7) o comandante da Polícia contraterrorista britânica, Mark Rowley.
O comandante revelou que há, ainda, um policial também afetado e não quis detalhar o tipo de agente nervoso usado no atentado. "Além disso, infelizmente, um agente da polícia que foi um dos primeiros a chegar à cena em resposta ao incidente, também está no hospital em estado grave", acrescentou Rowley.
Na noite desta quarta-feira, a rede de televisão Sky News informou que as três vítimas estão em coma.
O jornal The Times, que citou uma fonte do governo britânico que não foi identificada, indicou que a condição de Skripal é especialmente grave. "Existe a impressão de que não vai sair desta. Acredito que poderia ser mais positivo (para Yulia). Eles têm esperança de que ela consiga seguir adiante", afirmou a fonte.
O jornal informou que a situação do policial é "menos grave". O gás sarin é o mais conhecido dos agentes nervosos. Trata-se de uma potente substância neurotóxica, inodora e invisível, que mesmo não sendo inalada, seu simples contato com a pele bloqueia a transmissão do impulso nervoso e leva à morte por parada cardiorrespiratória.
As vítimas se queixam de violentas dores de cabeça e apresentam pupilas dilatadas. Depois, sofrem convulsões, paradas respiratórias e entram em coma antes de morrer. Rowley disse não haver risco para o público.
Serguei Skripal, de 66 anos, ex-coronel do serviços secreto militar russo que passou informações aos britânicos, e sua filha, de 33 anos, que mora na Rússia e visitava o pai, estão entre a vida e a morte desde que foram encontrados inconscientes no domingo em um banco em uma rua da cidade inglesa de Salisbury.
A Polícia pediu a colaboração de testemunhas, ampliou o perímetro de isolamento policial - que se concentrava em torno de um pub e de um restaurante italiano - destacando que "o centro de atenção neste momento é determinar qual (substância) adoeceu gravemente estas pessoas".
Os investigadores querem estabelecer o itinerário exato de Skripal e sua filha e "muitas horas" de gravação de câmeras de segurança estão sendo analisadas, revelou a polícia.
As autoridades acreditam que Skripal e a filha estiveram no centro da cidade durante várias horas antes de serem encontrados inconscientes.
Segundo alguns relatos, os dois comeram uma pizza em um restaurante e depois foram a um pub.
Governo britânico pede calma
Após acusar a Rússia, o governo britânico pediu calma. "Temos que manter a cabeça fria", disse a ministra do Interior, Amber Rudd, após presidir uma reunião de emergência do governo britânico, advertindo que a investigação será "um processo longo".
A reunião do governo de Theresa May foi celebrada no dia seguinte ao ministro das Relações Exteriores, Boris Johnson, afirmar no Parlamento que a Rússia é "uma força maligna e perturbadora", advertindo: "Aviso aos governos de todo o mundo que nenhuma tentativa de eliminar uma vida inocente no Reino Unido ficará sem castigo, nem sanção".
Moscou reagiu denunciando "uma campanha antirrussa na imprensa", lamentou a porta-voz do ministério russo das Relações Exteriores, Maria Zajarova, em coletiva de imprensa.
"Esta história acabará como de costume: de entrada, acusações sem fundamento, depois guardarão seus segredos e nem os jornalistas, nem os políticos saberão o que realmente ocorreu", acrescentou.
Não se trata do primeiro caso de ex-exilado russo envenenado no Reino Unido: antes foram Alexander Litvinenko (2006) e Alexander Perepilichni (2012).
Muito perto de Salisbury fica o laboratório militar de Porton Down, onde a imprensa britânica acredita que se esteja analisando a substância.
O caso remete ao do também ex-espião russo Litvinenko, inimigo do presidente russo, Vladimir Putin, assassinado com uma substância altamente radioativa - o polônio 210 -, colocada em seu chá em um luxuoso hotel de Londres por dois agentes russos.
Após ser condenado na Rússia a 13 anos de prisão por passar informação a Londres, Skripal ingressou em uma troca de espiões no aeroporto de Viena, em 2010, e desde então morava no Reino Unido.
Imagens de câmeras de segurança de uma academia próxima mostram o ex-coronel caminhando normalmente com uma mulher loira, pouco antes de cair doente.