Roma, Itália - Os italianos votam neste domingo (4/3) em uma das eleições mais incertas de sua história recente, em que a coalizão de direita liderada por um ressuscitado Silvio Berlusconi parte com uma vantagem sobre o Movimento 5 Estrelas (M5S) antissistema. A indecisão reina entre uma grande parte dos mais de 46 milhões de eleitores, que serão a chave para o futuro da terceira economia da União Europeia, que luta contra a estagnação.
A votação começou às 7h00 (3h00 de Brasília) e vai até às 23h00 (19h00 de Brasília) para eleger 630 deputados e 315 senadores. Dada a complexidade do novo sistema eleitoral, espera-se uma ideia clara da composição do Parlamento apenas na madrugada de segunda-feira (5).
Após votarem, muitos eleitores expressavam sua amargura, ao final de uma campanha dominada por questões como imigração, insegurança e promessas econômicas milionárias impossíveis de cumprir, bem como agressões e insultos entre militantes neofascistas e antifascistas, algo que não se via desde a década de 1980. "Esta campanha foi complexa e bastante sórdida, incluindo a do partido pelo qual votei", declarou Mirko Canali, um cabeleireiro de 24 anos, militante do Partido Democrata (PD, centro-esquerda) do governo em fim de mandato.
[SAIBAMAIS]Se as últimas projeções forem confirmadas, a coalizão formada pelo partido de Berlusconi, Forza Italia, os xenófobos da Liga do Norte e os neofascistas dos Irmãos da Itália não conseguiriam uma maioria absoluta e teriam que negociar com outras formações para poderem governar. De acordo com especialistas, o limiar para obter a maioria dos assentos é entre 40 e 45% dos votos com o novo sistema eleitoral, um verdadeiro labirinto que combina o voto proporcional com o voto majoritário.
A aliança liderada pelo magnata e três vezes o primeiro-ministro Berlusconi, de 81 anos, alcançaria, de acordo com as pesquisas, entre 35 e 37% dos votos, uma porcentagem insuficiente para governar. Berlusconi, com 17%, luta dentro de sua própria coalizão com a Liga Norte de Matteo Salvini (13%), que surgiu como uma formação ultranacionalista e eurocética, seguindo o modelo da Frente Nacional francesa de Marine Le Pen.
Uma vitória de Salvini, que prometeu a expulsão de 600 mil imigrantes e o fechamento das fronteiras, sacudiria grande parte da Europa. Enquanto isso Berlusconi, inabilitado para o cargo devido a uma condenação por fraude fiscal, tenta tranquilizar o bloco europeu propondo como primeiro-ministro o presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani. Não está descartada a possibilidade de que a Itália seja governada por um líder abertamente de extrema-direita, que reúne parte do descontentamento e mal-estar dos italianos.
O PD dividido
Matteo Renzi, líder PD, politicamente desgastado, convidou "os eleitores da esquerda radical e os moderados a votarem para o Partido Democrata (PD, centro-esquerda) para que este país não caia nas mãos de Matteo Salvini".
A situação é complexa para a coalizão de centro-esquerda, com 27,4% das intenções de voto, e para o outrora maior partido na Itália, o PD, com 22,9%. "Pessoalmente, vejo muita confusão, perdeu-se o rumo", disse Giuseppe, natural do sul da Itália, à AFP no sábado, enquanto um grupo de jovens disse que estava indeciso.
Seguro de sua vitória, o Movimento 5 Estrelas, que participa sozinho e se recusou a fazer alianças, apresentou os 17 ministros de seu futuro governo. "A fase em que estávamos na oposição acabou e agora vamos governar", disse o jovem Luigi Di Maio, candidato com apenas 31 anos ao cargo de primeiro-ministro. "Eu quero punir essa classe política corrupta e enganosa que nos governa e é por isso que eu voto para o M5E", declarou um médico sem revelar seu nome.
Os indignados "à italiana", sem ideologia, apoiados principalmente por jovens dispostos a romper a bipolaridade tradicional entre a direita e a esquerda, estão prontos para governar pela primeira vez o país se alcançarem a façanha de mais de 40%. Mais de um milhão e meio de italianos residentes na América Latina, incluindo 800 mil na Argentina, foram convocados a votar. Esta é a quarta vez que os italianos que vivem no exterior, perto de 4 milhões, exerceram esse direito, concedido em 2001.