Washington, Estados Unidos - O presidente americano, Donald Trump, reforçou nesta sexta-feira (2/3) suas ameaças de impor "taxas recíprocas" aos parceiros comerciais e afirmou que as "guerras comerciais são boas e fáceis de ganhar".
"Muito barulho por nada", opinou o secretário de Comércio, Wildbur Ross, em um programa de televisão, enquanto as bolsas caíam e ameaças de represálias comerciais, bem como advertências de órgãos como OMC e FMI, se espalhavam.
Trump estava longe de demonstrar preocupação. "Quando um país (EUA) está perdendo bilhões de dólares no comércio com virtualmente todos os países com os quais faz negócios, guerras comerciais são boas, e fáceis de ganhar", escreveu no Twitter.
Assim, Trump redobrou sua aposta no protecionismo, o que provocou uma onda global de rechaço, após o presidente americano anunciar a decisão de impor a partir da próxima semana tarifas de importação de 25% para o aço e de 10% para o alumínio. O objetivo seria punir práticas comerciais que ele acredita serem desleais, aumentarem o déficit e roubarem empregos americanos.
O anúncio irritou parceiros comerciais como Canadá, Alemanha, México e União Europeia, bem como sua concorrente China.
Como o presidente, o secretário de Comércio desdenhou das reações. Em um programa de TV, ele usou latas de cerveja, refrigerante e sopa para demonstrar que a população americana não seria afetada. "Essa é uma lata de sopa da Campbell. Há cerca de 2,6 centavos de valor de aço. Se isso subir 25%, fica ao redor de seis décimos de um centavo sobre o preço da lata", explicou. "É insignificante", apontou.
Contudo, a Europa soou os tambores de guerra. Produtos americanos emblemáticos já estão na mira de Bruxelas. "A UE prepara contramedidas que afetam as taxas de importação de produtos americanos, principalmente de Harley-Davidson, Bourbon e Levi;s", disse a porta-voz do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.
;Risco real;
"O risco de escalada é real, como mostraram as primeiras respostas dos outros" países, indicou nesta sexta-feira o diretor-geral do Organização Mundial do Comércio (OMC), o brasileiro Roberto Azevêdo. Já o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou que as decisões de Washington poderão prejudicar "não apenas fora do país, mas também a própria economia americana".
A China pediu hoje a Washington que "restrinja" o uso de medidas protecionistas e "respeite as regras" do comércio internacional. "Se outros países seguirem seus passos, isto teria um impacto grave na ordem do comércio mundial", afirmou Hua Chunying, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China, nesta sexta-feira.
Reação firme
Também no Twitter, Trump lançou um alerta aos países que consideram tomar medidas de represálias contra os Estados Unidos. "Logo imporemos TAXAS RECÍPROCAS para que cobremos o mesmo que eles nos cobram. Com um déficit comercial de 800 bilhões de dólares, não temos opção", disse.
Os Estados Unidos importam 20 milhões de toneladas de aço por ano, a 24 bilhões de dólares, o que faz do país o maior importador do mundo. Na América Latina, o México representa 9% das importações americanas de aço, enquanto o Brasil representa 13%. O presidente da Comissão europeia Jean-Claude Juncker disse que a UE "reagirá com firmeza".
Foi o mesmo que a Alemanha, maior economia europeia: "A UE deve reagir de maneira firme às taxas de importação punitivas dos Estados Unidos, que ameaçam milhares de empregos na Europa" afirmou Sigmar Gabriel em um comunicado.
O Canadá, maior fornecedor de aço e alumínio aos Estados Unidos, considerou a decisão de Trump "inaceitável". No México, a Câmara Nacional da Indústria de Ferro e do Aço pediu que "se responda de forma recíproca e imediata" à eventual imposição de tarifas. A Rússia também expressou "preocupação" com a decisão de Donald Trump.