Agência France-Presse
postado em 27/02/2018 11:44
Nova York, Estados Unidos - Uma piloto da Marinha, uma jovem "millennial" webdesigner, ou uma premiada escritora: um número recorde de americanas está se lançando na política, indignadas com Donald Trump e com a crônica desigualdade de gênero nos cargos eletivos.
Constituindo apenas 20% do total de membros do Congresso, as mulheres se anunciam como um motor de mudança nas eleições legislativas de meio de mandato (as "midterms") em novembro próximo, nas quais os democratas esperam conseguir pôr fim à maioria republicana e aplicar um duro golpe em um presidente que abominam.
"Nunca vi nada assim", disse Patti Russo, diretora-executiva da Escola de Campanha das Mulheres na Universidade de Yale, que há 25 anos treina mulheres para disputarem cargos políticos. "É excitante", celebrou Patti.
Da surpreendente vitória de Trump em novembro de 2016 à Marcha das Mulheres em Washington, em janeiro de 2017, passando pelo escândalo de denúncias de assédio sexual e pelo movimento de reação #MeToo, assim como pelas eleições do ano passado e pelo discurso sobre o Estado da União de Trump em janeiro deste ano, seu telefone não para de tocar.
O Centro para Política e Mulheres da Universidade de Rutgers estima que o dobro de americanas se candidatará ao Congresso em 2018, em relação a 2016: 437, à Câmara de Representantes, e 51, ao Senado. A maioria é democrata.
O que as move é a indignação com o fato de um homem sem experiência política e que se gabou de praticar assédio com mulheres ter chegado à Casa Branca. Também não engolem a derrota de Hillary Clinton, com frequência apresentada como "a candidata mais qualificada da história".
As mulheres - sobretudo, as democratas - sentem que os direitos femininos estão sob ataque e estão abandonando os estereótipos para enfrentar ativamente as políticas de Trump em saúde pública, controle de armas, ou meio ambiente.
;Em choque;
A Emily;s List (Lista da Emily), um comitê que trabalha para eleger mulheres democratas a favor do aborto, diz que mais de 30 mil delas entraram em contato, interessadas em disputar cargos desde a eleição de Trump.
Há uma geração, as mulheres que contemplavam entrar na política beiravam os 40 anos. Hoje, a idade média é 30.
Republicana, Lindsay Brown, uma webdesigner de 29 anos, talvez contrarie essa tendência em um aspecto, mas, em outros, personifica o clima atual, ao disputar como feminista o quinto mandato consecutivo do representante Leonard Lance em seu "acomodado, branco" distrito de Nova Jersey.
"Minha mãe estava em choque", contou Lindsay, revelando em seguida: "mas está tão orgulhosa".
Com alguns voluntários sem salário, sem um diretor de campanha e 3.300 dólares em doações, ela ainda precisa reunir 200 assinaturas para registrar sua candidatura para as primárias republicanas de abril. Até agora, tem 20.
Se conseguir, pode vir a ser a pessoa mais jovem já eleita para o Congresso. Se não tiver sucesso, tentará novamente. "Estou envolvida demais com isso agora. Não tem como voltar a ter uma vida normal", alega.
Mais força tem a candidata democrata e piloto da Marinha reformada Mikie Sherrill, de outro distrito de Nova Jersey, que arrecadou 42.000 dólares on-line somente este mês.
Não representados
"Os ;millennials; são o maior bloco de eleitores agora e não estão representados na maioria dos níveis do governo", disse Lindsay Brown à AFP em sua casa de Clark, Nova Jersey, cercada por seus dois cães resgatados de um abrigo e por três gatos.
Quase 80 mulheres vão disputar o governo de algum estado este ano, superando de longe o recorde anterior de 34, registrado em 1994. Apenas seis dos atuais 50 governadores são mulheres.
Na Geórgia, Stacey Abrams - uma empresária, advogada e autora de oito thrillers - espera romper o telhado de vidro para mulheres negras, se for eleita governadora da Geórgia.
Nem todas as mulheres engajadas na política recentemente almejam um cargo, porém: as eleitoras negras foram essenciais para as vitórias nas eleições no Alabama e na Virgínia.
As mulheres também trabalham intensamente na arrecadação de fundos. "É, literalmente, a única coisa, sobre a qual podemos falar, ver como podemos expressar cada dólar", afirma a ex-modelo Carin van der Donk, mãe de dois meninos, em um café de Nova York.
Antes, ela achava que falar de dinheiro não era bem-visto em seu círculo social. Quando Trump ganhou, porém, entrou "em greve de fome por dez dias" e, agora, organiza reuniões políticas quatro noites por semana.
"Como mulheres, não temos sido suficientemente enérgicas. Precisamos pressionar e abrir caminho para que as coisas aconteçam", ensina Carin.