Nova York, Estados Unidos - Depois do ataque a tiros na escola da Flórida, sobreviventes como David Hogg e Emma González se converteram no rosto do movimento pelo controle de armas nos Estados Unidos, e agora também são alvos de analistas da direita radical e defensores de Donald Trump, que apresentam os estudantes como marionetes da esquerda.
Quando estes alunos da escola de Parkland denunciaram no fim de semana a falta de ação de seus governantes diante da multiplicação de ataques a tiros em escolas, as primeiras críticas surgiram em sites da "alt-right" (direita alternativa) e nas redes sociais.
E[SAIBAMAIS]m meio a um cenário político fortemente polarizado e complicado pelo fenômeno das "fake news", sites extremistas como The Gateway Pundit e Infowars, cujo fundador, Alex Jones, assegura que o massacre na escola Sandy Hook que deixou 26 mortos em 2012 foi uma invenção, começaram a lançar teorias da conspiração.
The Gateway Pundit afirmou que os alunos são "usados como ferramentas políticas pela extrema esquerda para avançar sua retórica anticonservadora e sua agenda contra as armas". E acusa as organizadoras da "Marcha das Mulheres", que apoiarão o protesto anunciado pelos estudantes em Washington em 24 de março, de manipulá-los.
David Hogg, um dos alunos que lidera o movimento e jornalista em potencial, e Emma González, que pronunciou no sábado um vibrante discurso ante as Câmaras contra os políticos americanos, incluindo o presidente Trump, são os principais alvos.
O site Infowars os acusa de terem sido "treinados" pela CNN, canal de televisão detestado pela ultradireita, e assegura que foram escolhidos como "atores de crise" a serviço de uma causa progressista por sua facilidade de falar diante das câmeras.
O fato do pai de David Hogg ser um agente do FBI aposentado parece ter nutrido ainda mais as teorias da conspiração.
A Polícia Federal americana, muito criticada por Trump por investigar os possíveis vínculos de sua campanha eleitoral com Rússia, teve que pedir desculpas por não ter reagido após receber - pouco antes do massacre - um alerta sobre o comportamento perigoso do jovem autor do ataque a tiros, Nikolas Cruz.
Um vídeo que apresenta Hogg como um ator, publicado no YouTube por um adepto das teorias da conspiração, esteve entre os mais compartilhados na plataforma na quarta-feira e havia sido visto mais de 200 mil vezes quando foi retirado horas depois, informou a imprensa americana.
Outros defensores das teorias da conspiração atacavam os líderes estudantis no Twitter com as hashtags #ParklandHoax e #CrisisActors, gerando imediatamente pedidos de bloqueio de suas contas.
Outra estudante líder do movimento, Cameron Kasky, que lançou o lema #NeverAgain no Twitter, anunciou na quarta-feira que suspenderia temporariamente a sua conta no Facebook após ser ameaçada de morte por parte de militantes da poderosa Associação Nacional do Rifle (NRA).
Filho do presidente se junta
Seguido por mais de 2,6 milhões de pessoas no Twitter, o apresentador conservador Bill O;Reilly, que deixou a Fox News em abril do ano passado depois de ser denunciado por assédio sexual, também questionou as motivações dos estudantes.
A imprensa quer "destruir o governo Trump de todas as formas possíveis". "Se tiverem que usar crianças para alcançar isso, usarão", escreveu na terça-feira.
Até o filho do presidente, Donald Trump Jr., fez eco dessas suspeitas de manipulação, ao "curtir" na terça-feira dois tuítes do Gateway Pundit contra Hogg, segundo o site Trump Alert, que acompanha a atividade dos membros da família do presidente no Twitter.
Um representante republicano da Flórida, Shawn Harrison, confirmou na terça ter demitido um de seus colaboradores por ter difundido acusações contra David Hogg e Emma González em sua conta no Twitter. Embora tenha votado na terça-feira com a maioria dos representantes da Flórida contra a possibilidade de proibir os fuzis de assalto, Harrison disse estar "alarmado" com os comentários de seu colaborador.
Vários estudantes expressaram sua indignação pelas acusações. Questionado pela CNN, Hogg as chamou de "inacreditáveis" e "repugnantes". "Não sou um ator de crise, sou alguém que teve que ser testemunha disso e viver isso", declarou.