Neste contexto, dois bispos chineses reconhecidos pelo papa tiveram, a pedido da Santa Sé, que ceder seu cargo a prelados escolhidos diretamente por Pequim - um deles havia sido excomungado pelo Vaticano em 2011.
A informação foi revelada em janeiro pelo AsiaNews, publicação do Pontifício Instituto para as Missões Estrangeiras. Na segunda-feira (29/2) foi confirmada pelo cardeal chinês Joseph Zen, bispo emérito de Hong Kong e importante adversário à aproximação entre o Vaticano e Pequim.
O cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, não desmentiu na quarta-feira a informação em uma entrevista ao site "Vatican Insider", mas colocou em seu lugar o "rebelde" de Hong Kong por seu "ponto de vista pessoal".
O cardeal Zen havia considerado na segunda-feira em sua conta no Facebook que o Vaticano "está vendendo a Igreja Católica na China" e destacando que "o governo comunista está instaurando novas regras mais estritas para limitar a liberdade religiosa".
Para Pietro Parolin "não existem duas Igrejas na China, mas duas comunidades de fiéis que devem avançar progressivamente no caminho da reconciliação até a unidade".
Esta busca pela unidade, no centro da diplomacia do Vaticano, passa obrigatoriamente por uma solução ao "crucial" e delicado tema da nomeação dos bispos.
Os milhões de católicos chineses estão divididos entre uma "Associação Patriótica" cujo clero é eleito diretamente pelo Partido Comunista, sem que se respeite a regra de obediência ao papa, e uma Igreja oficial cujos bispos nomeados por Roma são tolerados, mas não reconhecidos por Pequim.
O Vaticano e a China não têm relações diplomáticas desde 1951.
Duas Igrejas
O acordo de negociação ultrassecreto é, sobretudo, a respeito do reconhecimento pelo Vaticano dos bispos da Associação Patriótica, em troca de uma atitude mais indulgente do governo comunista.
A última palavra sobre a nomeação dos futuros bispos pode ser do papa, após a sugestão da Conferência Episcopal chinesa, disse um cardeal há um ano.
Segundo Parolin, o objetivo é abolir a distinção entre bispos "clandestinos" e "oficiais", pedindo, às vezes, "sacrifícios" a alguns.
"A Igreja não esquecerá jamais os sofrimentos do passado e presente dos católicos chineses", insistiu, pedindo a "construção de um futuro mais sereno".
O AsiaNews publicou há uma semana uma série de reações de fiéis e religiosos da Igreja clandestina, divididos entre tristeza e ira. "Me resta agora me tornar agricultor", comentou um padre.
Em meio à polêmica está o bispo chinês Peter Zhuang Jianjian, de 88 anos, ordenado pelo Vaticano e a quem foi pedido em duas ocasiões que deixasse seu cargo no sudeste da China para o bispo Joseph Huang Bingzhang, nomeado por Pequim e que foi excomungado em 2011 pelo Vaticano.
Outro prelado chinês, de 70 anos, preso por uma semana em 2017 segundo o AsiaNews, retrocederia a número dois em sua diocese, deixando o cargo para outro bispo do regime chinês.
Nesse contexto, em 3 de janeiro, o bispo Peter Shao Zhumin, retido sem motivo pelas autoridades chinesas, foi libertado após sete meses de uma detenção pela qual a Santa Sé estava "gravemente preocupada".