Oncupinar, Turquia - A ofensiva do exército da Turquia contra uma milícia curda aliada dos Estados Unidos no norte da Síria entrou neste sábado (27/1) em sua segunda semana, com novos ataques aéreos e de artilharia, assim como a promessa de Ancara de "esmagar" qualquer ameaça.
Apesar dos pedidos de vários países ocidentais por moderação, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou neste sábado que seu governo está determinado a "esmagar como um rolo compressor" qualquer ameaça contra a Turquia.
Ancara realiza desde 20 de janeiro uma ofensiva na região de Afrin, noroeste da Síria, contra as Unidades de Proteção Popular (YPG), que considera "terroristas". Esta milícia curda, no entanto, é uma aliada da coalizão internacional contra o grupo Estado Islâmico (EI).
Neste sábado foram retomados os combates entre as forças turcas e as YPG ao noroeste da região de Afrin, segundo a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
A operação aumentou a tensão entre Ancara e Washington, uma relação abalada há um ano pelas divergências sobre as YPG.
Durante uma conversa telefônica na sexta-feira, o conselheiro de Segurança Nacional do presidente americano Donald Trump, H.R. McMaster, confirmou ao porta-voz do presidente turco Ibrahim Kalin que Washington não forneceria mais armas às YPG, informou o governo da Turquia.
Na quarta-feira, uma ligação telefônica entre Erdogan e Donald Trump evidenciou as divergências entre Turquia e Estados Unidos, quando os dois governos apresentaram versões consideravelmente diferentes sobre a conversa.
Ignorando os apelos de Washington por "contenção", Erdogan ameaçou na sexta-feira ampliar a ofensiva turca para outras áreas ao norte da Síria controladas pelas YPG, como a cidade de Manbij, onde estão mobilizados centenas de soldados americanos.
Neste sábado, o ministro turco das Relações Exteriores, Mevlüt Cavusoglu, disse que "é necessário que (Estados Unidos) se retire imediatamente de Manbij".
"Não importa o nome da organização terrorista, seja Daesh (acrônimo em árabe do EI), PKK ou YPG. Com a ajuda de Deus, vamos esmagá-los como um rolo compressor", prometeu Erdogan em um discurso neste sábado em Istambul.
"Continuaremos nossa operação (em Afrin) até destruir a cabeça do terrorismo", declarou o primeiro-ministro Binali Yildirim.
"Não importa o que digam uns e outros", completou.
Diante da ofensiva turca, a administração semiautônoma de Afrin pediu na quinta-feira ao governo sírio que atue para impedir os ataques.
Os grupos curdos sírios, que controlam atualmente dois terços dos quase 900 km de fronteira com a Turquia, mantêm uma relação ambígua com o regime sírio, evitando confrontos. A oposição síria acusa os dois lados de conluio..
Segundo o OSDH, os confrontos deixaram mais de 110 mortos desde sábado passado nos dois lados, assim como 38 civis, que faleceram em sua maioria em bombardeios turcos.
Ancara, que nega qualquer ataque contra civis, afirma que três soldados turcos morreram e 30 ficaram feridos desde o início da ofensiva.