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Vítimas dos atentados de Bruxelas se dizem 'abandonadas' pela Bélgica

Na Bélgica, a ausência de um fundo de garantia nacional para as vítimas do terrorismo - como existe na França - obriga essas pessoas a dirigirem-se individualmente à sua companhia de seguros

"Temos muros ao nosso redor, pessoas que não entendem nada. Onde está a ajuda? Em parte alguma, nem no nível dos seguros e certamente tampouco no nível do governo! Estamos fartos", disse Myriam Gueuning, ferida durante a dupla explosão no aeroporto de Bruxelas-Zaventem.

A mulher, que aparente ter cerca de sessenta anos, falou com outras vítimas dos atentados de 22 de março, durante uma entrevista coletiva organizada em Bruxelas pela associação V-Europe, que assegura representar quase 200 pessoas.

Nessa manhã de 2016, três atacantes de uma célula extremista franco-belga se explodiram no aeroporto e no metrô de Bruxelas, causando um total de 32 mortos e centenas de feridos. A organização extremista Estado Islâmico (EI) reivindicou o ataque.

Em um momento em que o segundo aniversário dos atentados se aproxima, a V-Europe lamenta especialmente a demora do Estado belga para implementar uma "plataforma única" para tratar os relatórios administrativos.

Esta ferramenta, na sua opinião, pouparia as vítimas de dirigirem-se a múltiplos interlocutores, como recomendou no ano passado a comissão de investigação parlamentar sobre os atentados de 22 de março.

Na Bélgica, a ausência de um fundo de garantia nacional para as vítimas do terrorismo ; como existe na França ; obriga essas pessoas a dirigirem-se individualmente à sua companhia de seguros para obter uma indenização além da "ajuda de urgência" a que tem direito.

"As companhias de seguro fazem todo o possível para nos desanimar", afirmou uma participante.

Outro dos problemas denunciados é a "discriminação" entre os residentes belgas e as vítimas estrangeiras, e mesmo dentro da própria Bélgica, entre as comunidades flamenca e da Valônia.

O governo federal belga se comprometeu nesta quarta-feira a reduzir "ao mínimo" as perícias médicas necessárias para as indenizações e a acelerar os pagamentos da comissão encarregada da ajuda financeira de urgência.

O executivo também trabalha na implementação de decretos para "a entrada em vigor do estatuto nacional da vítima", afirmaram em um comunicado conjunto os ministros da Justiça, Saúde e Defesa.