Cairo, Egito -O vice-presidente americano, Mike Pence, iniciou neste sábado (20) no Cairo sua primeira viagem pelo Oriente Médio em um contexto de grandes tensões originadas pela decisão de Donald Trump de reconhecer Jerusalém como capital de Israel.
Inicialmente prevista para o final de dezembro, a viagem de Pence foi adiada após essa decisão unilateral do presidente Trump, que acabou com décadas de diplomacia americana e quebrou um consenso internacional.
Desta vez, a visita - que inclui Egito, Jordânia e Israel - foi mantida.
Pence chegou ao Cairo acompanhado de sua mulher, Karen, e deve se reunir com o presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sissi. Depois, viajará para a Jordânia e, no domingo, segue para Israel, última etapa de sua viagem.
Aliado dos Estados Unidos que dirige o país com mãos de ferro, o presidente Al-Sissi anunciou na sexta-feira (19) que tentará a reeleição em março de 2018.
- Indignação geral -
A decisão de Washington sobre Jerusalém provocou a indignação geral na região e a revolta dos palestinos, que retiraram dos Estados Unidos o papel de mediador no processo de paz.
O status de Jerusalém é um dos pontos cruciais do processo de paz com Israel, paralisado desde 2014. Os palestinos querem que Jerusalém Oriental - ocupada e anexada por Israel - seja a capital do Estado ao qual aspiram.
As relações entre Washington e os palestinos esfriou ainda mais esta semana após a decisão dos Estados Unidos de "congelar" mais da metade dos pagamentos previstos à agência da ONU para os refugiados da Palestina (UNRWA, na sigla em inglês). Isso afeta grande parte dos cinco milhões de palestinos refugiados nos Territórios Palestinos, na Jordânia, no Líbano e na Síria.
Os palestinos disseram que iriam boicotar a visita de Pence. Diferentemente do que estava previsto em dezembro, ele não irá se encontrar com o presidente Mahmud Abbas.
A decisão de Trump sobre Jerusalém provocou manifestações em vários países árabes e muçulmanos, entre eles Egito, onde o grande imã de Al-Azhar, principal instituição do Islã sunita, anunciou em dezembro sua negativa em receber Pence.
O papa dos coptas (cristãos) do Egito, Teodoro II, também rejeitou receber o vice-presidente dos Estados Unidos, alegando que Trump "ignora os sentimentos de milhões de árabes".
- Ajuda indispensável -
Mas os governos árabes aliados de Washington se veem entre as opiniões públicas hostis e o poderoso aliado americano. É o caso de Egito e Jordânia, com vínculos geopolíticos, ou com dependência financeira de Washington.
A ajuda militar americana ao Egito, que é de 1,3 bilhão de dólares por ano, é considerada crucial pelo governo de Sissi, que aposta na segurança. Daí veio a prudente reação do Cairo ante a posição americana sobre Jerusalém e o anúncio de que transferiria a sede de sua embaixada em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.
O Egito se limitou a dizer que essa opção iria "complicar" a situação.
Após Egito e Jordânia, em 22 e 23 de janeiro, Pence terá encontros que se preveem muito amistosos com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e o com presidente Reuven Rivlin.
Também fará um discurso no Parlamento e visitará o Muro das Lamentações na Cidade Velha de Jerusalém, assim como o Memorial do Holocausto Yad Vashem.