No Chile, o papa visitará no próximo dia 17 Temuco, capital da região de La Araucanía, ;zona quente; onde os indígenas mapuches reivindicam terras que consideram suas por direitos ancestrais e que hoje estão nas mãos de empresas florestais.
Depois de resistir ferrenhamente aos colonizadores espanhóis, desde meados do século XIX, os mapuches ficaram restritos a viver em cerca de 5% de suas antigas terras. Sem espaço para plantar ou criar animais, a maioria precisou emigrar para grandes cidades e deixar de lado suas tradições ancestrais.
Há duas décadas, grupos radicais começaram a reivindicar territórios "usurpados" com a queima de maquinário florestal e confrontos violentos com a Polícia, que deixaram dezenas de indígenas mortos.
Sem canais de comunicação e sob o olhar crítico da maior parte dos chilenos, os mapuches esperam que a visita papal os ajude a "visibilizar" sua causa, embora não tenham grandes esperanças de mudanças.
"Grandes coisas não se esperam nem do papa, nem deste, nem daquele. Aqui as transformações concretas vamos fazer nós com o nosso esforço", disse à AFP Ramón Llanquileo, um dos líderes da radical Coordenadora Arauco Malleco (CAM), à qual se atribui a maioria dos ataques incendiários na região.
Os organizadores da visita do papa esperam que a mesma "ajude no encontro entre os chilenos naquela região e o resto do país", afirmou seu coordenador nacional, Fernando Ramos.
Visita à Amazônia
Depois de Temuco, Francisco voltará a Santiago e em seguida irá para Iquique (norte), onde conhecerá a realidade da migração para, então, iniciar sua viagem ao Peru, onde visitará a cidade de Puerto Maldonado, na região de Madre de Dios, na Amazônia peruana, fortemente castigada pela mineração ilegal de ouro.
"A presença do papa em Madre de Dios se deve à contaminação e à depredação de nossos territórios, além da falta de segurança jurídica para os territórios das comunidades indígenas", disse à AFP Julio Ricardo Cusuriche, presidente da Federação Nativa do Río de Madre de Dios.
Berço do império inca, o de maior desenvolvimento da América pré-colombiana, o Peru tem nos indígenas amazônicos uma de suas populações menos desenvolvidas.
Umas 350.000 pessoas pertencem a algum dos 50 grupos étnicos amazônicos, alguns dos quais vivem como há 5.000 anos e sem contato com outras civilizações.
Algumas comunidades foram escravizadas por todo tipo de traficante de riquezas da floresta, como a borracha ou a madeira, e nos últimos anos, sentiu com força os efeitos das mudanças climáticas.
"A situação dos povos indígenas é preocupante e, mais ainda, é alarmante a dos povos indígenas em isolamento voluntário pela depredação de suas áreas", acrescentou Cusuriche.
Francisco se reunirá com indígenas amazônicos no Coliseu Regional Madre de Dios, onde se espera a presença de 3.500 nativos. Indígenas bolivianos e brasileiros deverão cruzar a fronteira para ver o papa.
Durante seu pontificado, Francisco já exortou respeitar, valorizar e consultar os povos indígenas. Em 2016, durante visita ao México, Francisco pediu perdão aos indígenas pelos maus tratos e a desigualdade a que são submetidos e autorizou o uso de línguas autóctones nos rituais católicos.
Um ano antes, durante visita à Bolívia, onde a maioria da população é indígena, pediu "humildemente perdão, não só pelas ofensas da própria Igreja, mas pelos crimes contra os povos originários durante a chamada conquista da América".
Em sua última viagem à região, em 2017, quando visitou a Colômbia, os indígenas colombianos, grandes vítimas da Conquista, também tiveram seu momento de sintonia com o papa.
Tanto Bento XVI, em 2007, como João Paulo II, em 1992, já tinham feito alusão às injustiças cometidas pelos colonizadores contra a população nativa.