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Poder no Irã está dividido sobre como responder aos protestos

De 28 de dezembro a 1º de janeiro, houve manifestações acompanhadas de violência em dezenas de cidades do país para protestar contra a carestia e o poder, resultando na morte de 21 pessoas



"Dizer que as reivindicações da população se limitam a questões econômicas (...) é errar o tiro", declarou nesta segunda-feira (8/1) Rohani, citado em um comunicado da Presidência.

"O problema que temos é a distância que separa os dirigentes da geração jovem. Nossa forma de pensar é diferente de sua forma de pensar (...) O problema é que queremos que a geração dos nossos netos viva como nós", acrescentou o presidente.

De 28 de dezembro a 1; de janeiro, houve manifestações acompanhadas de violência em dezenas de cidades do país para protestar contra a carestia e o poder, resultando na morte de 21 pessoas.

As autoridades, de todas as tendências, falam de "reivindicações legítimas" contra a carestia e o desemprego, ao mesmo tempo em que condenam "a violência".

Liberdades civis

Os manifestantes repetiram palavras de ordem contra o poder em seu conjunto, colocando no mesmo saco os conservadores e o presidente Rohani, um moderado reeleito em maio com o apoio dos reformistas.

"O povo tem reivindicações econômicas, políticas, culturais e sociais", afirmou nesta segunda-feira Rohani, cujo poder é limitado diante do Guia Supremo, o aiatolá Ali Khamenei, e outras instituições pelos conservadores.

"Embora as questões econômicas tenham um grande papel nos protestos, a solução para estes problemas passa por reformas políticas (...) e mais liberdades civis", afirmaram dezesseis autoridades reformistas em carta aberta.

Nesta segunda-feira (8/1), os jornais reformistas e o jornal governamental do Irã dedicaram suas primeiras páginas à decisão do Conselho Municipal de Teerã, controlado pelos reformistas, de designar um lugar público para concentrações e protestos, seguindo o modelo do Hyde Park, em Londres.

Mas o jornal ultraconservador Kayhan denunciou esta iniciativa e criticou os "pretendidos reformistas que querem mudar a natureza do problema".

"Esqueceram que o povo (...) protestou primeiro contra eles", destacou o jornal.

Para além dos ataques, as decisões econômicas do governo estão no coração do debate, em um momento em que o Parlamento examina o projeto de lei de finanças, apresentado por Rohani para o ano iraniano que começa em 21 de março.

A comissão orçamentária especial do Parlamento já excluiu aumentar os preços da gasolina e da água, energia elétrica e gás, como queria o governo.

Interesse do país

Um aumento de preços não joga "em absoluto no interesse do país", avaliou o presidente do Parlamento, Ali Lariyani, que defendeu medidas de ajuda aos setores sociais mais desfavorecidos, quando o desemprego atinge oficialmente 12% (quase 30% entre os jovens de 15 a 24 anos).

Rohani criticou o Parlamento, considerando que não é sua função mudar os objetivos orçamentários.

Não se pode "não corrigir os preços e não aumentar os impostos" e, ao mesmo tempo, "aumentar os salários e se ocupar dos pobres", afirmou o presidente, acusado pelos conservadores de seguir um viés liberal.

Rohani construiu sua campanha eleitoral sobre a promessa de uma melhora econômica, graças à suspensão parcial das sanções estrangeiras contra Teerã, após o acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano, alcançado em julho de 2015, obra-prima de seu primeiro mandato (2013-2017).

Mas as consequências econômicas concretas deste acordo - criticado por parte dos conservadores - demoram em se deixar sentir. E a incerteza provocada pela atitude do presidente americano, Donald Trump, que ameaça regularmente em tirar seu país do acordo, contribui para esfriar um pouco mais o ardor dos investidores estrangeiros, interessados no Irã e que o país precisa para relançar sua economia.