Esses dois países rivais estão separados por uma das fronteiras mais militarizadas do mundo, enquanto que no bairro coreano de Shenyang, uma grande cidade do nordeste da China, os estabelecimentos comerciais abertos por seus respectivos expatriados coexistem a poucos metros de distância.
Cerveja, frango frito, cosméticos ou roupas da moda. Nas ruas, lojas e restaurantes estão cobertos com cartazes escritos em coreano. Isso logo poderá mudar: na terça-feira (9/1) expira o ultimato lançado pela China às empresas norte-coreanas presentes no país. Elas deverão fechar, de acordo com a aplicação das sanções da ONU decididas pelos testes nucleares e balísticos de Pyongyang.
No mesmo dia, autoridades das duas Coreias se reunirão na fronteira entre os dois países, algo que não acontece desde dezembro de 2015. É um pequeno "reaquecimento" das relações depois de meses de tensão que não se reflete em Xita, o bairro coreano de Shenyang.
"Somos parte do mesmo povo, uma grande família. Mas sua forma de pensar é diferente", resume uma norte-coreana que trabalha como garçonete no restaurante Pyongyang Rungrado. A garçonete vive no bairro há três anos, mas nunca falou com um sul-coreano.
Sem vontade de falar com eles
Na mesma rua, a proprietária do restaurante sul-coreano "Armazém número 8" diz que não tem nenhum contato com os encarregados dos dois estabelecimentos norte-coreanos situados logo ao lado.
"Não tenho nem vontade de falar com eles", disse Jin Minhua, de 43 anos, que serve carne assada a seus clientes.
Shenyang, de 8,3 milhões de habitantes, é a cidade chinesa mais povoada na fronteira imediata com a Coreia do Norte. Ali vivem muitos chineses de origem coreana. A cidade se tornou destino da elite norte-coreana por onde naturalmente apareceram restaurantes e hotéis abertos por seus compatriotas.
Paralelamente, os comerciantes sul-coreanos abriram muitas lojas de roupa como as de Seul, muito procuradas China. No entanto, a geopolítica regional atingiu duramente aos negócios das duas comunidades. As empresas sul-coreanas sofreram as medidas de retorsão de Pequim no ano passado, após a decisão de Seul de autorizar o deslocamento em seu território do sistema de mísseis e antimísseis americano THAAD. Muitos sul-coreanos fecharam suas portas e partiram, contam os habitantes do bairro.
Socialistas vs. capitalistas
O ministério de Comércio chinês determinou que as empresas norte-coreanas devem fechar suas portas até a terça-feira (9/1). Pyongyang havia aberto cerca de cem restaurantes na China. No bairro coreano de Shenyang apenas um fechou. As garçonetes de outros estabelecimentos garantem que não há fechamentos previstos.
Os chineses de etnia coreana poderão criar pontes entre os representantes dos dois países. Mas, inclusive para eles, estabelecer uma amizade com os norte-coreanos é difícil. "Eles não gostam dos sul-coreanos. Não comem nunca em nossos restaurantes. Não há pontos em comum", diz Jin, encarregada por um restaurante.
No restaurante da frente, a garçonete do Norte diz que não tem vontade de falar com os do Sul. "Somos um país socialista. Eles são capitalistas", diz.