Já na quarta-feira, dezenas de milhares de pessoas se mobilizaram em vinte outras cidades provinciais para apoiar o poder e denunciar a violência dos protestos que se estenderam por uma semana. As autoridades acusam "grupos contra-revolucionários" e os Mudjahedines do Povo de tirar proveito das manifestações "legítimas" da população contra as dificuldades econômicas para criar problemas.
O exército de elite iraniano, a Guarda Revolucionária, proclamou na quarta-feira o fim deste movimento descrito como "sedição". Iniciado em 28 de dezembro em Mashhad (nordeste), a segunda maior cidade do país, foi o maior movimento de contestação desde 2009 no Irã.
De quinta a segunda-feira à noite, 21 pessoas morreram - a maioria manifestantes - e centenas foram presas, incluindo 450 em Teerã, segundo dados oficiais.
Interferência americana
Teerã também acusou os Estados Unidos e a Arábia Saudita, seu rival regional, de atiçar os agitadores, apoiando protestos violentos. O Irã denunciou ao Conselho de Segurança da ONU e ao seu secretário-geral, Antonio Guterres, uma "interferência" em seus assuntos internos.
"Nos últimos dias, a administração americana (...) aumentou suas intervenções de forma grotesca nos assuntos internos do Irã com o pretexto de apoiar manifestações", afirmou o representante iraniano na ONU, Gholamali Khoshroo.
Desde o início da contestação, Donald Trump tem expressado apoio à causa dos manifestantes e condenado o regime. A embaixadora americana na ONU, Nikki Haley, pediu reuniões de emergência do Conselho de Segurança e do Conselho de Direitos Humanos.
Um alto funcionário da administração americana afirmou que novas sanções poderiam ser impostas a Teerã por "violações" dos direitos humanos, atos de censura ou obstrução da liberdade de manifestação.
- "Problemas econômicos" -
A classe política no Irã - reformistas e conservadores - se posicionou contra a violência, enfatizando a necessidade de encontrar uma solução para os problemas econômicos, principalmente o desemprego, que atinge 30% dos jovens.
Embora as queixas econômicas tenham contribuído amplamente para esses movimento de protesto, as reivindicações políticas não tardaram a surgir. "A principal demanda das pessoas às autoridades e ao governo é que resolvem os problemas econômicos", apontou na quarta-feira Ali Akbar Velayati, conselheiro do guia supremo para assuntos internacionais, citado pela agência Isna.
Reeleito em maio passado, o reformista Hassan Rohani prometeu, logo que se tornou presidente em 2013 trabalhar para melhorar a situação econômica e social, uma esperança alimentada pelo acordo nuclear assinado em 2015 e o levantamento de algumas sanções internacionais.
Mas o encarecimento do custo de vida e o desemprego não pararam de alimentar as frustrações. O Parlamento, que revisa o orçamento para o próximo ano fiscal (março de 2018 a março de 2019), já rejeitou os aumentos de impostos que o governo queria adotar, incluindo um aumento de 50% no preço da gasolina.