Milhares de partidários do governo iraniano tomaram as ruas neste sábado (30/12), em várias cidades do país, uma demonstração de força do regime após dois dias de protestos contra a situação econômica nacional.
A emissora de televisão oficial mostrou imagens de milhares de pessoas vestidas de preto nas ruas da capital, Teerã, assim como em Mashhad, a segunda maior cidade do país, e em outros pontos do território.
A marcha celebra o aniversário do fim da "revolta", os protestos antigoverno feitos em 2009, após disputadas eleições e a vitória de Mahmud Ahmadinejad para um novo mandato.
Prevista há semanas, a convocação deste sábado acabou coincidindo com a onda de atos antigoverno deflagrada na quinta-feira em várias cidades. Esses protestos, que começaram tendo como pauta a rejeição à alta no custo de vida, à inflação e ao desemprego, escalaram até se tornarem uma crítica ao regime.
Neste sábado (30/12), o ministro iraniano do Interior, Abdolreza Rahmani Fazli, pediu à população que não participe de "manifestações ilegais".
"Pedimos à população que não participe de manifestações ilegais, já que criarão problemas para si mesmos e para outros cidadãos", declarou Fazli, citado pela agência de notícias Isna.
No total, o número de manifestantes se limitou a algumas centenas, mas esta foi a primeira vez, desde 2009, que tantas cidades iranianas foram tomadas por pessoas protestando.
A imprensa local chegou a noticiar as manifestações, mas sem detalhes, ou entrevistas.
Em Mashhad, origem dos protestos, cerca de 50 pessoas foram detidas. A medida foi condenada "firmemente" pelo governo americano na sexta-feira (30/12).
;Sinal de alerta;
Nas redes sociais e nos aplicativos de mensagens, como Telegram e Instagram, começaram a surgir vídeos das manifestações nas cidades de Rasht (norte), Kermansha (oeste), Hamedan (oeste) e Qazvin (norte).
Em alguns deles, como na cidade santa de Qom, a multidão gritava "Morte ao ditador" e "Liberdade para os presos políticos".
"Sinal de alerta para todo o mundo", intitulava neste sábado o jornal reformista Arman, enquanto se multiplicavam os pedidos ao governo para que adote medidas para solucionar os problemas econômicos do país.
O jornal conservador "Javan" falava de "movimento social" e recuperava uma declaração do presidente Hassan Rouhani, afirmando que "os inimigos [do Irã] atacam o apoio popular ao regime".
No campo conservador, também houve vozes que denunciaram o uso dos protestos dos últimos dois dias por parte de "contrarrevolucionários".
"É difícil prever se os protestos vão continuar, já que foram uma surpresa total", disse à AFP o editor-chefe da plataforma reformista Nazar, Payam Parhiz.
"O país enfrenta grandes desafios, como o desemprego, os altos preços, a corrupção, a falta de água, as desigualdades sociais e o desequilíbrio do orçamento", tuitou Hesamodin Ashena, o conselheiro cultural do presidente Hassan Rouhani.
"As pessoas têm o direito de fazer ouvir sua voz", acrescentou.
Já os conservadores pediram ao governo que se ocupe mais dos problemas diários dos iranianos.
"A solução dos problemas econômicos é a prioridade do país", disse Ebrahim Raissi, candidato conservador derrotado por Rouhani na eleição presidencial de maio.
"Se os membros do governo mostrarem determinação para solucionar os problemas econômicos, o povo vai apoiá-los", completou.