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Cientistas russos alertam sobre declarações do chefe do FSB

O chefe do FSB denunciou especialmente os 'laços existentes entre conspiradores e agências de segurança estrangeiras'

Um grupo de cientistas russos expressou, neste sábado (23), preocupação com as recentes declarações do chefe dos serviços de segurança russos (FSB), Alexander Bortnikov, sobre os expurgos de Stalin na década de 1930. Em uma carta aberta publicada no site do jornal Kommersant, mais de 30 membros da Academia de Ciências declararam temer que a "revisão" do papel da polícia secreta de Stalin seja intencional e pediram que a opinião pública se engaje em seus protestos.

Em uma entrevista concedida esta semana ao jornal Rossiiskaya Gazeta, Alexander Bortnikov afirmou que os arquivos revelam que uma "parte significativa" dos casos criminais da época "tinham de forma objetiva um aspecto criminal". Sem querer "maquiar ninguém", o chefe do FSB denunciou especialmente os "laços existentes entre conspiradores e agências de segurança estrangeiras".

[SAIBAMAIS]Esta entrevista aconteceu por ocasião do centenário da Checa, a primeira polícia secreta criada para eliminar qualquer oposição ao regime soviético. O FSB substituiu, após a queda da URSS, o KGB, os serviços secretos soviéticos, nos quais o presidente russo Vladimir Putin atuou como agente.



Os historiadores consideram que quase um milhão de pessoas morreram nos expurgos estalinistas da década de 1930, de um total de cerca de 20 milhões de vítimas durante os 30 anos em que Stalin esteve no poder. "Parece que, pela primeira vez desde o 20; Congresso do Partido Comunista (soviético) em 1956, uma autoridade do alto escalão justifica os expurgos maciços dos anos 30 e 40, seguidos por condenações errôneas, tortura e execuções de centenas de milhares de compatriotas inocentes", destacam os cientistas em sua carta aberta.

Esses acadêmicos também expressaram preocupação com o fato de que Alexander Bortnikov não mencionou a prisão e a execução de milhões de cidadãos soviéticos sob o regime de Stalin, incluindo cientistas oficiais do exército. "Os objetivos de Bortnikov em sua extensa entrevista não nos parecem claros: sobre o que se trata? Um conselho ao novo presidente? Expressão de uma nostalgia de tempos passados %u200B%u200Bou uma propaganda para uma nova doutrina?", acrescenta o texto.

Vladimir Putin anunciou sua candidatura para as eleições presidenciais de março de 2018 para um quarto mandato. O físico Sergei Stishov, de 80 anos, que está por trás da iniciativa, disse que os cientistas não esperam uma resposta do chefe do FSB. Um especialista dos serviços de segurança russos, Andrei Soldatov, descreveu a entrevista de Bortnikov como "muito perigosa".

"Nos últimos dois ou três anos, Vladimir Putin fez deliberadamente do FSB um instrumento de repressão seletiva", disse ele à AFP, denunciando o envolvimento dos serviços de segurança em "quase todos" casos criminais importantes.