Aqueles meses foram marcados por greves gerais e manifestações. Nos dias 6 e 7 de setembro houve a revogação da Constituição pelo Parlamento catalão; em 1; de outubro, o referendo de independência severamente reprimido pela polícia; em 27 de outubro, o fracasso na proclamação unilateral de independência, seguido da destituição do Executivo catalão - processado por rebelião e sedição -, que se dispersou entre a Bélgica, a prisão e a liberdade condicional.
Rajoy advertiu na sexta-feira (22), no dia seguinte às eleições organizadas na região no intuito de resolver a crise, que o próximo governo catalão, seja lá qual for, terá de cumprir a lei. "Espero que haja um governo que abandone decisões unilaterais e que não se coloque acima da lei", disse Rajoy.
O primeiro-ministro foi o grande derrotado nas eleições que ele próprio convocou e nas quais seu Partido Popular (PP) passou de 11 para 3 assentos. Com suas declarações, Rajoy deu a entender que não hesitará em recorrer novamente ao artigo 155 da Constituição de 1978, usado pela primeira vez na crise catalã, que lhe permitiu destituir o governo de Puigdemont e convocar eleições.
Por outro lado, Puigdemont, cujo partido, o Juntos pela Catalunha, liderou, contra todas as probabilidades, a lista dos independentistas, insistiu em exigir um referendo de independência: "queremos votar para decidir o nosso futuro", disse, em Bruxelas. Ele enfrenta agora o desafio de formar um governo com seus parceiros independentistas da ERC (Esquerda Republicana) em circunstâncias estranhas e sabendo que a prisão provavelmente o aguardará se retornar à Espanha.
A única grande novidade das eleições foi a primeira vitória de um partido anti-nacionalista catalão. Trata-se do Cidadão, que venceu o páreo em número de votos e assentos, mas que não pode governar, exceto em caso de grande surpresa, porque as listas separatistas somam mais deputados.
Inés Arrimadas, líder do Cidadãos na Catalunha, estimou que "se o processo de independência já não tinha sentido ontem, hoje faz menos sentido ainda". "Estamos agora em uma sociedade mais polarizada e mais conflituosa. A possibilidade de uma solução de consenso é menor do que era há um ano", indicou à AFP o analista político Oriol Bartomeus, professor da Universidade Autônoma de Barcelona.
"Certamente continuaremos com um governo que não funciona e isso afetará a situação econômica. Veremos o que vai acontecer com as empresas que deixaram a região e com aquelas que ainda estão aqui", acrescentou. Mais de 3.100 empresas, incluindo grandes bancos, retiraram sua sede da Catalunha desde o início de outubro, com medo da incerteza política.
"Prevemos que as perspectivas econômicas da região continuem a se deteriorar com repercussões para a economia nacional, a menos que seja compensada pelo crescimento em outras regiões", indicou a agência financeira Moody;s em comunicado divulgado na sexta-feira.