A revolta dos manifestantes com aos partidos no Curdistão iraquiano, aos quais acusam de corrupção e incompetência, se mantinha viva nesta quarta-feira (20/12), apesar da imponente mobilização das forças de segurança.
Os manifestantes atearam fogo nas sedes da formação Goran e de outras duas menores, o Partido Social Democrata e o Partido Comunista do Curdistão, nas localidades de Rania, onde os guardas não interviram, e de Qalat Diza, ambas na província de Suleimânia, segundo testemunhas.
Na véspera haviam incendiado as sedes da União Patriótica do Curdistão (UPK), do Partido Democrático do Curdistão (PDK) e da União Islâmica de Rania; e cinco manifestantes morreram por disparos durante os confrontos com a Polícia, que também deixaram mais de 70 feridos.
Diante desta crise sem precedentes, o partido Goran, que conta com 10 ministros, e o Grupo Islâmico, com dois, anunciaram sua saída do Executivo regional de Nechervan Barzani, que tem 21 membros.
Desde o início dos protestos na segunda-feira (18/12), ao menos 15 sedes de partidos políticos e uma prefeitura foram incendiados. Os manifestantes acusam o governo de corrupção e pedem sua renúncia.
"Queimamos as sedes dos partidos porque compõem o governo e são responsáveis pelos sofrimentos econômico e político do povo curdo", afirmou à AFP um ativista em Suleimânia que não quis ser identificado por motivos de segurança.
"Os cidadãos curdos querem mostrar que estão desesperados com a ação de todos os partidos que levaram o Curdistão ao fracasso", acrescentou.
Comércio fechado
Para tentar evitar os confrontos, viaturas policiais com metralhadoras, agentes antidistúrbios e caminhões com canhões de água se posicionaram nos principais pontos de Suleimânia, capital da província homônima.
Muitos estabelecimentos comerciais estavam fechados perto da praça de Serrallo, no centro da cidade, onde milhares de manifestantes se reuniram nos últimos dois dias.
Segundo organizadores dos protestos, as forças de segurança prenderam pessoas suspeitas de estarem por trás das manifestações.
A região autônoma, que há pouco ainda se mostrava orgulhosa por sua riqueza e estabilidade enquanto o resto do Iraque afundava no caos, está atualmente em uma situação dramática.
O referendo de independência de 25 de setembro promovido pelo ex-presidente Massoud Barzani, mas logo rechaçado pelo poder central de Bagdá e pela comunidade internacional, acabou sendo um fiasco, apesar da vitória em massa do "sim".
Barzani deixou a Presidência do Curdistão em novembro. O Parlamento curdo realizou posteriormente uma divisão provisória de seus poderes até a eleição presidencial, cuja data ainda não foi fixada.
"Sentimento de traição"
A região estava sendo crivada pelas dívidas desde que o preço do petróleo começou a cair em 2014, mas o golpe mais duro chegou quando, após o referendo, as forças do poder central tomaram as zonas disputadas, como a rica província petroleira de Kirkuk.
Como resultado, o Curdistão perdeu a metade de sua produção.
Segundo habitantes de Erbil, a capital do Curdistão, há meses os salários caíram à metade e são pagos de forma irregular.
E com a chegada do inverno, o preço do combustível aumentou fortemente. Há apenas quatro horas de eletricidade por dia e as pessoas não têm como pagar o valor ao gerador coletivo.
"As pessoas têm um sentimento de traição, de derrota e de humilhação, e responsabilizam os partidos", assegurou o geógrafo Cyril Roussel, especialista no Curdistão iraquiano.
Na sua opinião, "Bagdá espera a ruína da região para iniciar as negociações a partir de uma posição de força".
O primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, afirmou que seu governo não podia pagar o salário dos funcionários no Curdistão por conta "da corrupção existente".