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Carles Puigdemont, o líder catalão que quer recuperar poder

"A presidência da Catalunha não se decapita nem se muda por conveniência de Madri", alertou em seu último comício da campanha Juntos por Cataluña, criada para evitar a queda de seu partido nacionalista após as eleições

A intervenção do Estado espanhol impediu a materialização de sua ansiada República Catalã, mas Carles Puigdemont não se dá por vencido e, da Bélgica, quer recuperar a presidência da qual foi destituído por Madri.

"A presidência da Catalunha não se decapita nem se muda por conveniência de Madri", alertou em seu último comício da campanha Juntos por Cataluña, criada para evitar a queda de seu partido nacionalista após as eleições.

Ele cumpriu sua palavra ao realizar um referendo de autodeterminação proibido pela justiça e também apoiou a declaração de independência do Parlamento regional. Contudo, dois dias depois, viajou para Bruxelas, desistindo de brigar pelo poder com o governo espanhol.

"A imprensa contrária ao separatismo o descreveu como covarde. Mas Puigdemont peca por ser imprudente", escreveu seu amigo Antoni Puigverd no jornal La Vanguardia.

Aos olhos do mundo, este ex-jornalista de 54 anos, de vasta cabeleira castanha, é a face do movimento separatista catalão, que conseguiu 47,7% dos votos nas eleições regionais de 2015.

Ao ir para Bruxelas, transferiu o problema catalão para o centro da União Europeia e continuou a levantar sua voz contra Madri e as instituições europeias que apoiaram em massa o governo espanhol.

Como entender a determinação deste homem casado com uma romena, pai de duas filhas pequenas, e que afirma não ter medo de ir para prisão?

Sobrevivente de um acidente


Em uma biografia publicada em 2016, o amigo e jornalista Carles Porta o descreveu como um homem "honesto e resiliente", com a característica de "um corredor de fundo". Tem "essa virtude (ou defeito, vai saber): é teimoso".

Sob anonimato, um adversário político seu explicou que "não tem grande bagagem" intelectual, mas desde os 16 anos tem "o separatismo no sangue".

Seu destino mudou em um dia de janeiro de 2016 quando foi chamado para liderar uma coalizão separatista, decidida a levar os 7,5 milhões de catalães à independência.

Prefeito de Gerona (98.000 habitantes) desde 2001, o então deputado conservador catalão aceitou. Assim, substituiu à frente do governo regional Artur Mas, inaceitável aos olhos dos separatistas de extrema esquerda - cujo apoio necessitava no Parlamento - devido à sua condição de convertido tardio ao separatismo e seus cortes orçamentários.

Mas deixou para Puigdemont um pesado fardo: o de inimigo número um do governo espanhol do conservador Mariano Rajoy, com o qual não havia nenhum diálogo.

Um dos poucos pontos em comum entre Rajoy e Puigdemont é que os dois sofreram, quando jovens, um terrível acidente de carro: Rajoy conserva as cicatrizes debaixo de sua barba, e Puigdemont no lábio e na testa, debaixo de sua franja.

O presidente catalão nasceu em 1962 na casa de sua família em Amer, um povoado próximo aos Pirineus, a 100 quilômetros de Barcelona e suas elites.

Filho e neto dos confeiteiros do povoado, o segundo de oito irmãos tinha nove anos quando foi mandado para um internato e aprendeu "a ser um lutador", lembrou Porta.

O ditador Francisco Franco morreu quando Puigdemont tinha 13 anos.

Muito apegado à língua catalã e apaixonado pela história, o adolescente lembrava muito bem da repressão imposta à região rebelde depois da Guerra Civil (1936-1939).

Em 1980 se filiou ao Convergência Democrática da Catalunha, partido conservador e nacionalista de Jordi Pujol (presidente catalão entre 1980 e 2003), que conseguiu aumentar a autonomia da região.

Trabalhou como revisor do jornal nacionalista El Punt e se tornou diretor, combinando jornalismo e militância.

Na época os separatistas ainda eram poucos.

No verão de 1991, viajou para estudar o caso da Eslovênia que, após um referendo de independência proibido, tinha acabado de declarar unilateralmente a sua independência da Iugoslávia, à qual seguiu uma breve guerra.

Nos anos seguintes, advogou por ampliar a base social do separatismo mediante a não-violência, como Gandhi: "não precisamos ter pressa, temos que fazer bem", relembra em sua biografia.

Familiarizado com as novas tecnologias, Puigdemont fala inglês, francês e romeno. Criou uma agência de notícias catalã, um jornal em inglês sobre a Catalunha, e presidiu a Associação de Municípios pela Independência.

"Sabe muito da situação, conhece muito bem a importância dos meios de comunicação e está demonstrando que os utiliza muito bem", disse o analista político Antón Losada.