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Retorno de refugiados rohingyas a Mianmar começará em janeiro

Os ministros de Assuntos Exteriores de ambos os países se reuniram em Daca para finalizar um acordo assinado em 23 de novembro sobre o retorno voluntário de quase 650 mil refugiados rohingyas

Os governos de Mianmar e de Bangladesh confirmaram nesta terça-feira (19/12) a vontade de começar a repatriar para território birmanês a partir janeiro os rohingyas que fugiram para Bangladesh, enquanto a preocupação sobre sua segurança persiste.

Os ministros de Assuntos Exteriores de ambos os países se reuniram em Daca para finalizar um acordo assinado em 23 de novembro sobre o retorno voluntário de quase 650 mil refugiados rohingyas que vivem atualmente em campos na Bangladesh.

Um novo grupo de trabalho que tem como objetivo "assegurar o início da repatriação em dois meses" estabelecerá um calendário para proceder a verificação da identidade dos refugiados e organizará seu retorno, informou à imprensa o ministro de Assuntos Exteriores de Bangladesh.

"Começamos a próxima etapa de nosso trabalho", declarou A.H. Mahmood Ali após o encontro.

Apesar da vontade demonstrada pelos dois países vizinhos, as dúvidas sobre a segurança dos refugiados que voltariam a Mianmar persistem. De acordo com a ONG Médicos Sem Fronteiras, quase 7.000 rohingyas morreram entre o final de agosto e o final de setembro, quando a ONU acusou o governo birmanês de realizar uma "limpeza étnica".

Cerca de 655.000 rohingyas haviam fugido de Mianmar para refugiar-se em Bangladesh desde o mês de agosto.

Um estudo publicado nesta segunda-feira pela Human Rights Watch, com base em imagens de satélite, afirma que a violência continuou em outubro e novembro em aproximadamente quarenta povoados rohingyas que foram incendiados.

O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra;ad Al Hussein, afirmou nesta segunda-feira que não pode assegurar a presença de observadores internacionais para garantir as condições em que os retornos serão feitos.

"Somos céticos" sobre a possibilidade de ter observadores no terreno, afirmou nesta segunda-feira à AFP.

A Human Rights Watch considerou que o acordo sobre a repatriação era apenas um "exercício de relações públicas" e que os refugiados não estariam seguros no estado de Rajin, de onde vem a maioria, sem proteção nem direitos garantidos.

As autoridades birmanesas sempre desmentiram ter cometido atrocidades contra os rohingyas, afirmando que o exército só respondeu aos ataques de rebeldes muçulmanos contra postos de polícia o 25 de agosto, que deixaram uma dezena de mortos entre os agentes.

Refugiados rohingyas em Bangladesh falaram à AFP sobre suas dúvidas no próximo regresso.

"Não voltaremos a nosso país enquanto nossos direitos não estiverem garantidos", confirmou Rushan Ali.

"Queremos a cidadania plena e a restituição de nossas terras e de nossos bens. Pedimos justiça para as pessoas que foram assassinadas, torturadas e estupradas", acrescentou.