O partido de Heinz-Christian Strache é uma das formações mais antigas da extrema direita na Europa. No início dos anos 2000, foi aliado dos conservadores na coalizão dirigida por Wolfgang Schüssel, o que provocou semanas de manifestações em Viena em sinal de protesto.
Concluído no sábado, o acordo de governo não provocou, porém, grandes reações em nível europeu, onde os partidos populistas e hostis à imigração se fortaleceram nos últimos tempos.
"A situação talvez seja diferente da anterior, em 2000. Mas a presença da extrema-direita no poder nunca é insignificante", assinalou o comissário europeu, o socialista francês Pierre Moscovici. A volta do FP; ao poder dá asas a seus aliados nacionalistas europeus, depois de um ano de 2017 marcado pelos bons resultados da extrema direita na França, Alemanha e Holanda.
O partido de Strache conseguiu deixar sua marca na agenda do novo gabinete, pois o endurecimento da política migratória - principalmente com a restrição das ajudas sociais aos estrangeiros - é uma das prioridades do Executivo.
O novo governo reivindica "um compromisso europeu claro", e seu programa também inclui reduções de impostos, ajudas às famílias e aposentadorias menores, assim como medidas para simplificar a burocracia. E, apesar de o FP; ser uma sigla tradicionalmente eurocética, aceitou que não será perguntado aos austríacos sobre uma eventual saída do país da UE.
Para tranquilizar seus sócios europeus, Kurz, o atual chanceler dentro de uma coalizão com os social-democratas, também conservará o controle das questões europeias. A Áustria presidirá a UE no segundo trimestre de 2008, e Kurz viajará nesta terça-feira para Bruxelas. Lá, reúne-se com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e com o do Conselho Europeu, Donald Tusk.
Em entrevista à TV estatal ORF na noite desta segunda-feira, Kurz pediu que seu governo seja "julgado por seu trabalho" e não pela reputação de alguns. Kurz destacou ainda que durante as negociações com o FP; ficou convencido de que este partido quer "mudar as coisas" na Áustria .
A chanceler alemã, Angela Merkel, cuja política de abertura em relação aos refugiados foi muito criticada por Strache, afirmou desejar "uma boa cooperação" com a Áustria e convidou seu homólogo a visitar Berlim. O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, disse confiar no "papel construtivo e pró-europeu" que desempenhará o novo governo dentro da UE.
Já o Alto Comissário de Direitos Humanos da ONU, Zeid Ra;ad Al Husein, se disse "muito preocupado" com a decisão do novo chanceler austríaco de adotar posturas extremas sobre temas como a imigração para conquistar apoio, o que revela "uma evolução perigosa (...) na vida política da Europa".
"Estou perturbado com o que tem acontecido na Áustria nos últimos seis meses", declarou Zeid, lamentando que "o ex-ministro das Relações Exteriores tenha girado para a extrema direita no que envolve imigração e direitos dos imigrantes para captar votos que até agora iam para o Partido da Liberdade".