Os alemães podem ter que retornar às urnas no início de 2018, quando acabaram de eleger no final de setembro seus deputados. Angela Merkel afirmou que deseja encontrar nesta segunda-feira o presidente Frank-Walter Steinmeier, que desempenha um papel institucional fundamental na implementação do complexo processo de dissolução parlamentar. Ele insinuou que tomaria seu tempo para decidir.
A chanceler também cancelou uma coletiva de imprensa prevista para o início da tarde com o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, que acaba de constituir uma maioria após 220 dias de negociações. Merkel "lamentou" o fracasso das negociações e prometeu que fará "tudo o que foi possível" para que a Alemanha "esteja bem dirigida durante as difíceis próximas semanas".
Brexit alemão
No poder desde 2005, venceu as eleições legislativas de setembro, mas com o pior resultado desde 1949 para o seu partido conservador, que perdeu muitos votos em benefício do partido de extrema direita AfD, impulsionado pelo crescente descontentamento com o chegada de mais de um milhão de imigrantes em 2015-2016.
Agora que Angela Merkel não conseguiu formar um governo, seu futuro político parece cada vez mais incerto. Especialmente porque sua ala centrista é contestada dentro de sua família política conservadora.
O terremoto político é tal, em um país acostumado com negociações e compromissos políticos, que a revista de referência Der Spiegel escreveu em seu site que a Alemanha enfrenta seu "momento Brexit, seu momento (Donald) Trump".
São muitos os comentaristas, veículos de imprensa e cientistas políticos que preveem o "fim" da chanceler. "É seu fracasso. Mostra que o método de Merkel - pragmatismo sem limites e uma flexibilidade ideológica máxima - chegou ao fim", aponta o Spiegel. Mas, no caso de eleições antecipadas, não há garantias de que o novo resultado seja diferente do anterior.
O crescimento do AfD e sua entrada na Câmara dos Deputados levou à fragmentação da paisagem política e deu ao país uma Assembleia legislativa sem maioria evidente. Este partido concentra seu programa num discurso anti-imigrantes, anti-islã etanti-Merkel.
Debate migratório
Por conseguinte, poderia capitalizar o fracasso da chanceler, especialmente porque foram a questão migratória e as consequências da generosa política de recepção de requerentes de asilo de Angela Merkel que fizeram fracassar as negociações.
As partes não chegaram a um acordo sobre um limite máximo do número de requerentes de asilo, nem sobre a questão de saber se todos ou apenas alguns dos refugiados deveriam ter direito ao reagrupamento familiar na Alemanha. Os conservadores e os liberais querem conter absolutamente as chegadas, enquanto os Verdes desejam uma política mais generosa.
Esta manhã, os liberais, que abandonaram as discussões durante a noite, atraíam grande parte das críticas, com alguns políticos e editorialistas acusando-os de derrubar as negociações para fins eleitorais. O ambientalista Reinhard Bütikofer até acusou Christian Lindner, líder do FDP, de "agitação populista". A pessoa em questão assegurou, por sua vez, que simplesmente as ideias e posições estavam muito distantes.
A situação na Alemanha também é uma má notícia para os parceiros europeus da Alemanha, especialmente a França, cujo presidente Emmanuel Macron apresentou em setembro propostas para o ressurgimento da União Europeia e da zona do euro.
A moeda comum também caía nos mercados asiáticos, enquanto na Bolsa de Valores de Frankfurt, o índice Dax abriu em queda de 0,47%.