Segurando cartazes e gritando "liberdade", os separatistas catalães bloquearam nesta quarta-feira rodovias, estradas, ruas e ferrovias em protesto pela prisão de seus líderes, em um dia de greve geral com menos adesão do que o esperado.
Centenas de caminhões e carros ficaram presos perto da fronteira francesa, que foi fechada pelos manifestantes. Houve dezenas de bloqueios em estradas e os trens de alta velocidade se viram seriamente afetados pela ocupação das vias nas estações de Barcelona e Girona.
[SAIBAMAIS]Mais de dez mil passageiros de trens de alta velocidade foram afetados e a paralisação interrompeu totalmente a conexão com a França, informou um porta-voz da empresa ferroviária.
"No total houve mais de 20 trens e mais dez mil passageiros afetados", explicou uma porta-voz da empresa Renfe, acrescentando que os oito trens diários entre a Espanha e a França tiveram que ser suspensos.
Diferentemente da greve geral de 3 de outubro, convocada em protesto pelas ações policiais do referendo de independência dois dias antes, a maioria dos mercados, lojas e restaurantes de Barcelona abriu suas portas, e as fábricas da região funcionavam normalmente.
"A adesão à greve foi mínima e residual na totalidade prática dos setores, excetuando-se no da educação", assegurou em Barcelona Juan Antonio Puigserver, secretário do Ministério do Interior.
Convocada por associações e um sindicato separatista, a greve buscava paralisar esta região em protesto pela prisão de vários dirigentes e pela intervenção de Madri na autonomia catalã.
Os grevistas concentraram sua ação na parte dos transportes, bloqueando rodovias que ligam a região com a França e com Madri, e os principais acessos a Barcelona, informou o serviço de tráfego regional.
"Estamos muito indignados, muito incomodados com o que o governo espanhol está fazendo", dizia irritada Elisabet Nistal, uma ortodontista de 33 anos, em uma manifestação em Barcelona.
Outras pessoas, ao contrário, se mostraram iradas com os manifestantes e houve momentos de tensão.
"É uma vergonha. Estão prejudicando as pessoas que estão indo e voltado do trabalho (...). Nos chamam de fascistas e nos prejudicam com essas coisas", disse à AFP Pepi, uma mulher de 50 anos que discutia na estação de Sants de Barcelona.
Sagrada Família é fechada
Um porta-voz da Cruz Vermelha informou à AFP que dividiram "sanduíches, sucos, água e biscoitos" entre os centenas de motoristas presos em engarrafamentos de seis quilômetros perto da França na rodovia que vai desde o país vizinho até a Andaluzia, perto da costa mediterrânea.
Outro grupo de manifestantes forçou o fechamento da principal atração turística da cidade, a Basílica da Sagrada Família, em cujas portas colocaram um enorme cartaz com a mensagem "repressão não é a solução", em inglês.
A greve, convocada pela intersindical separatista CSC, não contava com o apoio dos principais sindicatos do país.
As maiores incidências foram notadas no setor da educação pública, cujo principal sindicato apoiou o protesto. Assim, em uma praça do bairro barcelonês de Gracia, a aposentada Conchita Cosialls brincava com sua neta de sete anos Adriana, que não havia ido à escola pela greve.
"O ambiente é muito tranquilo", explicou à AFP Cosialls, dizendo que seus netos de escolas particulares tiveram aula.
Bélgica
O ex-presidente regional Carles Puigdemont está desde 30 de outubro em Bruxelas com quatro membros de seu governo, após a destituição pelo governo espanhol de Mariano Rajoy.
Os outros dirigentes, oito no total, estão em prisão preventiva, investigados por crimes de rebelião, sedição e malversação depois da proclamação de uma efêmera República Catalã em 27 de outubro, que foi anulada nesta quarta-feira pelo Tribunal Constitucional.
A mesma acusação pesa sobre Puigdemont e seus companheiros em Bruxelas, que aguardam a decisão belga sobre a extradição solicitada pela Justiça espanhola.
No Congresso de Madri, Rajoy afirmou que "as coisas estão funcionando bem" e se mostrou esperançoso de que as eleições convocadas para 21 de dezembro sirvam "para abrir uma nova etapa política, que necessariamente deve ser uma etapa de tranquilidade, normalidade, de convivência".
As pesquisas apontam para um resultado similar ao das eleições de 2015, quando os separatistas conseguiram a maioria das cadeiras, mas não de votos.
Nessas eleições se apresentaram em coalizão, mas desta vez provavelmente o farão separadamente, apesar das tentativas de Puigdemont de formar uma lista unitária que ele mesmo se ofereceu para liderar de Bruxelas.
Sua presença na Bélgica em busca de um alto-falante internacional gerou incômodo nesse país, mas o primeiro-ministro, Charles Michel, que governa em coalizão com nacionalistas empáticos à causa catalã, descartou uma crise política.
"Há uma crise política na Espanha, não na Bélgica", disse Michel no Parlamento belga.