Shah Por Dwip, Bangladesh - Pelo menos 12 pessoas morreram e dezenas continuavam desaparecidas após o naufrágio de uma embarcação que transportava membros da comunidade rohingya fugindo de Mianmar, em uma nova tragédia nessa crise que levou mais de meio milhão de refugiados a Bangladesh em seis semanas.
"O mar estava muito agitado. Acreditamos que eles perderam o controle do barco", explicou à AFP Rony Mitra, bombeiro que patrulha com seus homens as praias de Shah Por Dwip, em busca de corpos. O naufrágio ocorreu no domingo (8/10) na Baía de Bengala, perto da foz do rio Naf, que separa Mianmar e Bangladesh. Há semanas, os rohingyas desafiam um mar agitado para escapar da violência em Mianmar.
A Guarda Costeira bengali vigia o estuário do Naf. Na margem oposta, do lado birmanês, há pontos coloridos. É um acampamento de rohingyas, onde membros dessa minoria muçulmana aguardam para tentar atravessar para Bangladesh. "O mar está agitado hoje. Não sabemos para onde os corpos vão ser levados", diz Rony Mitra.
Por enquanto, os socorristas não sabem sequer quantas pessoas estavam a bordo no momento do naufrágio: as estimativas variam entre 60 e 100, de acordo com sobreviventes, que mencionam um grande número de crianças. "Conversamos com vários sobreviventes. Um deles relatou que o barco estava transportando entre 80 e 100 pessoas, incluindo 30 ou 35 homens", declarou Abdul Jalil, um funcionário da Guarda Costeira de Bangladesh. O bombeiro Rony Mitra fala de cerca de 60 pessoas.
Final da trégua
Nesta segunda-feira (9/10) de manhã, foraam encontrados um total de doze corpos: "dez crianças, uma senhora e um homem", segundo a Guarda Costeira, que resgaatou vários sobreviventes. De acordo com as autoridades de Bangladesh, vários passageiros conseguiram chegar à costa birmanesa, perto do local onde o naufrágio ocorreu.
A ONU considera que as Forças Armadas de Mianmar estão conduzindo uma limpeza étnica contra a minoria muçulmana. Acusado de incendiar suas casas para incitar a fuga dos rohingyas, o Exército birmanês atribui a responsabilidade aos muçulmanos. As autoridades birmanesas proíbem o acesso de organismos internacionais às áreas em conflito.
Diante das críticas, Mianmar denuncia um posicionamento imparcial e favorável da comunidade internacional em relação aos rohingyas. A prêmio Novel da Paz Aung San Suu Kyi é quem dirige de fato o primeiro governo civil do país, após décadas de regime militar.
Depois de vários dias de calma, o êxodo de rohingyas em direção a Bangladesh retomou, principalmente devido à falta de comida no oeste de Mianmar, onde, de acordo com a ONU, o sofrimento é "inimaginável". Segundo as últimas estatísticas das Nações Unidas, cerca de 515 mil refugiados fugiram de Mianmar para Bangladesh desde 25 de agosto.
Cerca de 2 mil refugiados continuam a chegar todos os dias, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM). No total, cerca de 150 rohingyas, muitos deles crianças, afogaram-se quando tentavam chegar a Bangladesh em embarcações improvisadas que a Guarda Costeira afirma não serem aptas para a navegação nas perigosas águas do delta.
A maioria foge do estado birmanês de Rakine (oeste) depois que o exército lançou uma campanha em retaliação a vários ataques contra postos da polícia em 25 de agosto. A chegada desses refugiados aumentou a pressão sobre os campos em Bangladesh, que já estavam superlotados como resultado das anteriores ondas de violência no oeste de Mianmar.
Os rohingyas, a maior população apátrida do mundo, são tratados como estrangeiros neste país onde 90% da população é budista. Por causa da discriminação, não podem viajar nem se casar sem autorização. Também não têm acesso ao mercado de trabalho ou a serviços públicos, como escolas ou hospitais.