A Casa Branca informou que o presidente americano se comunicou com o governador de Porto Rico, Ricardo Roselló, bem como com o ex-governador Luis Fortuno e com Jennifer Gonzalez-Colon, representante da ilha no Congresso, apesar de não ter poder de voto.
Mesmo assim, o chefe da Agência Federal de Gestão de Emergências (Fema, na sigla em inglês), Brock Long, informou Trump "sobre os avanços da resposta e das operações de recuperação" em Porto Rico, enquanto "lhe deu detalhes sobre a situação em campo", acrescentou a Casa Branca. O tom das críticas tinha se elevado bastante.
Enquanto praticamente todos os 3,4 milhões de moradores deste território americano estão sem energia elétrica, um terço sem comunicações e a metade sem água, dez dias após a passagem do furacão, segundo cifras oficiais, o presidente acusou "alguns em Porto Rico" de serem "incapazes de pôr seus empregados para trabalharem para ajudar" nas tarefas de recuperação.
Na capital, San Juan, os carros formam filas intermináveis em frente aos postos de gasolina, alguns vigiados por seguranças privados, e moradores do interior, desesperados, dizem não ver a presença do governo federal, ou local.
Em uma série de mensagens postadas no Twitter no sábado (30/9), Trump insistiu em que as equipes de resposta do governo, que enviaram uma dezena de embarcações e dez mil funcionários, estão "fazendo um trabalho fantástico".
"Querem que tudo esteja pronto para eles quando deveria ser um esforço comunitário", queixou-se Trump, que visita Porto Rico nesta terça-feira (3/10).
Em seus tuítes, Trump culpou pelos problemas seus adversários democratas, a imprensa e funcionários locais, especialmente a prefeita de San Juan, Carmen Yulín Cruz, a quem criticou pela "pobre capacidade de liderança".
Neste domingo, Cruz acusou Trump de estar "procurando uma desculpa para coisas que não vão bem".
"Talvez esteja acostumado com mulheres às quais ele tem que dizer o que fazer. Mas, sabe, aqui, em San Juan, não somos assim", alfinetou.
A prefeita afirmou não ter-se abalado com as críticas do presidente americano.
"Eu ri. Francamente, não tenho tempo para a pequena diplomacia", resumiu.
Em uma coletiva de imprensa na sexta-feira (29/9), Cruz tinha dito, emocionada: "Não posso compreender o fato de que a maior nação do mundo não possa proporcionar apoio logístico a uma pequena ilha".
Neste domingo, ela destacou: "Bom, ontem, depois da minha coletiva de imprensa, de repente começaram a chegar as coisas da Fema".
"Como os dentes de trás"
Em Porto Rico, os comentários de Trump - postados em seu clube de golfe, em Bedminster, em Nova Jersey (nordeste), onde passa o fim de semana - servem apenas para reforçar o sentimento de o presidente descuida desse território administrado pelos Estados Unidos e cujos habitantes são cidadãos americanos.
"É que nós somos americanos (cidadãos dos Estados Unidos) e não nos tratam como americanos (...) Nós lhes damos nossos impostos, mas, para eles, somos como os dentes de trás", indignou-se Miriam Cintron, de 52 anos.
As declarações anteriores de Trump - sobre quem vai pagar pela reconstrução, levando-se em conta os 73 bilhões de dólares de dívida financeira da ilha, no momento em que os porto-riquenhos enfrentam ameaças vitais - já haviam sido consideradas prematuras e desagradáveis.
E sua sugestão de que alguns moradores não querem ajudar também parece alimentar o ressentimento, quando muitos socorristas da ilha, que trabalham desesperadamente para manter suas famílias vivas, não conseguiram se somar a ações de maior magnitude.
Governador é menos crítico
Trump pareceu mais conciliador em mensagens posteriores, exortando "união" na ajuda "aos que sofrem" em Porto Rico, e elogiando o governador Ricardo Rosselló, que tem sido menos crítico com o governo federal do que Cruz.
No sábado, Rosselló destacou os esforços da Fema para distribuir gasolina em todo território, indicando que o número de postos abertos subiu nos últimos quatro dias de 450 para 714.
Perguntado pelo drama entre Trump e Cruz, o governador se limitou a responder: "A única forma disso funcionar é pela colaboração".
Os primeiros envios de ajuda federal a Porto Rico não chegaram tão rapidamente quanto ao Texas e à Flórida, afetados pelos furacões Harvey e Irma semanas atrás.
"O povo está desesperado. Eu não tenho medo de ninguém, mas tem outra gente que, sim, não sai de casa por medo de ser assaltada, roubada, que lhes façam mal", disse Brian Lafuente, de 27 anos, gerente de um posto de gasolina em Isla Verde.
Na sexta-feira, Trump afirmou que, "infelizmente", Porto Rico - um Estado Livre associado aos Estados Unidos desde 1952 e que se declarou na bancarrota em maio - não consegue administrar essa catástrofe por conta própria. O magnata nova-iorquino destacou que a ilha "terá que trabalhar conosco para determinar como se financiará e organizará este esforço de reconstrução em massa (...) e o que faremos com a tremenda quantidade de dívida existente na ilha".