Aos 62 anos, o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, é um dos últimos sobreviventes da antiga classe política espanhola e enfrenta, nos últimos meses, um dos maiores desafios de sua carreira e da história recente do país: a soberania catalã.
O homem à frente do Partido Popular (PP) e do Executivo espanhol desde dezembro de 2011, se viu envolvido a uma questão que explorou muito desde que era da oposição.
Em 2005 e 2006, ele foi uma das vozes mais críticas do novo Estatuto de Autonomia da Catalunha, aprovado pelo Parlamento espanhol, que reconhecia a região como uma nação e lhe dava mais atribuições.
Sob sua iniciativa, o PP recolheu, em todo o país, 4 milhões de assinaturas, para pedir ao então governo socialista um referendo em toda a Espanha sobre o novo Estatuto catalão.
Leia mais notícias em Mundo
Leia mais notícias em Mundo
A iniciativa fracassou, mas mais à frente seu partido apresentou um recurso ao Tribunal Constitucional que, em junho de 2010, anulou parcialmente o Estatuto.
A decisão do alto tribunal provocou um incêndio político imediato na Catalunha, interpretada por muitos como uma afronta, e marcou o início do desafio de secessão, que gerou tantas dores de cabeça nos últimos anos ao governo de Rajoy.
"O PP foi uma fábrica de criar separatistas", disse o líder do partido de esquerda Podemos, Pablo Iglesias, repetindo uma fórmula difundida entre a classe política e muito popular atualmente nas ruas da Catalunha.
Com críticas como "disparate", "escalada", "desobediência", ou "delírios autoritários", Rajoy já dedicou boa parte de seus discursos contra a consulta deste domingo, proibida pela Justiça.
Ele também tentou seduzir a opinião pública catalã, primeiro anunciando investimentos, e depois convocando manifestações em Barcelona em 26 de agosto, como prova de "amor" a uma região em luto pelos atentados terroristas que deixaram 16 mortos.
A estratégia foi recebida com sarcasmo pelos separatistas. Nos últimos dias, um dos lemas das manifestações era "Os catalães fazem coisas", em alusão a um vídeo em que Rajoy tenta elogiar a população da região: "São empreendedores, fazem coisas, exportam...".
Longa carreira
Nascido em 27 de março de 1955 na Galícia (noroeste), Rajoy é casado, tem dois filhos e leva sua vida privada com discrição.
Ele estudou direito antes de entrar para a Aliança Popular, fundada, entre outros, por diversos franquistas, como Manuel Fraga Iribarne - ministro do ditador - e, pouco depois, rebatizada como Partido Popular.
Cinco vezes ministro do governo de José María Aznar, foi seu porta-voz quando precisou justificar a gestão desastrosa da maré negra na Galícia, provocada pelo navio petroleiro Prestige, em 2002, ou a entrada da Espanha na guerra do Iraque em 2003, reforçando sua capacidade de resistência a críticas.
Essa habilidade sem dúvidas lhe foi útil no começo da atual legislatura. Ele formou o governo após driblar uma crise política excepcional de dez meses, na qual nenhuma maioria de governo se formava no atual Parlamento, muito fragmentado.
"Tem a pele de um elefante", diria pouco depois a chanceler alemã Angela Merkel, durante um almoço de trabalho em Berlim.
"É claro que Rajoy é um líder sem carisma, mas tem um domínio perfeito dos tempos e um conhecimento incrível dos mecanismos de decisão", disse Narciso Michavila, especialista que foi seu conselheiro.