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Irã tenta aproveitar isolamento de Donald Trump em pacto nuclear

Os países europeus, por sua vez, rejeitaram em uníssono a ameaça de Trump

Na semana em que Donald Trump fez sua estreia na ONU com um discurso belicoso e unilateralista, o presidente iraniano, Hassan Rohani, falou em paz e moderação e usou sua passagem por Nova York para uma ofensiva diplomática marcada por reuniões com alguns dos principais aliados internacionais de Washington.

Os países europeus rejeitaram em uníssono a ameaça de Trump de abandonar ou minar a implementação do acordo que permitiu o levantamento de sanções contra Teerã em troca do congelamento ou reversão de aspectos de seu programa nuclear. O isolamento dos EUA foi amenizado pelo apoio de Binyamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israel, que não participou das negociações que levaram à assinatura do pacto em 2015, durante o governo de Barack Obama.

Líder mais próxima dos EUA na Europa, a britânica Theresa May se encontrou com Rohani e lhe disse que seu país está "determinado" a garantir a manutenção do pacto, negociado entre o Irã, a União Europeia e seis países - EUA, China, Alemanha, França, Inglaterra e Rússia.

Trump deu indicações de que mudará a posição americana, o que tem o potencial de desmantelar o mais importante acordo de não proliferação nuclear em vigor. Analistas não acreditam que o presidente optará pela retirada formal dos EUA do pacto. "Isso deixaria os EUA ainda mais isolados e daria uma vantagem em termos de propaganda ao Irã", disse ao Estado Aaron David Miller, especialista em Oriente Médio do Wilson Center, em Washington.

[SAIBAMAIS]Miller está convencido de que Trump adotará um caminho alternativo e se recusará a certificar o cumprimento das obrigações pelo Irã em informe que enviará ao Congresso até o dia 15 de outubro, o que criará incerteza sobre o futuro do acordo. "Com isso, ele jogaria a bola para o Congresso, que teria 60 dias para decidir se reimpõe ou não sanções contra o Irã."

"A eventual recusa em certificar o cumprimento das obrigações por Teerã não significará a remoção dos EUA do acordo", ressaltou Suzanne Maloney, especialista em Irã do Centro Saban de Políticas para o Oriente Médio do Brookings Institution, em Washington. "Isso trará consequências em relação ao papel do Congresso e poderá levar a circunstâncias nas quais os EUA comecem a descumprir o acordo, o que nos colocará em conflito com nossos parceiros diplomáticos, além do Irã", disse Maloney.

Depois de se reunir com ministros das Relações Exteriores dos países signatários do acordo, na quinta-feira, o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, reconheceu que o Irã está cumprindo suas obrigações. Mas ele afirmou que Teerã desrespeita o "espírito" do acordo ao realizar testes de mísseis balísticos, apoiar o regime de Bashar Assad, na Síria, e sustentar grupos terroristas como o Hezbollah.

Teste

O Irã testou com sucesso um novo míssil, o Khoramshahr, de um alcance de 2 mil km e capaz de transportar várias ogivas, anunciou ontem a televisão estatal iraniana. O Irã já possui outros dois mísseis, o Ghadr-F e o Sekhil, que, como o mesmo alcance do projétil de ontem, é capaz de atingir Israel. O teste deve provocar reações de americanos e israelenses.