"Não desejamos que Mianmar se divida entre crenças religiosas", afirmou. "Condenamos todas as violações dos direitos humanos", destacou Aung San Suu Ky em seu discurso desta terça-feira, no qual não condenou a ação do Exército, acusado de incendiar vilas e atirar contra civis rohingyas.
"As forças de segurança receberam instruções para adotar todas as medidas visando evitar danos colaterais e que civis sejam atingidos" durante as operações antiterroristas. A organização Anistia Internacional (AI) lamentou, no entanto, que Aung San Suu Kyi não tenha condenado explicitamente o papel do Exército.
"Existem provas esmagadoras de que as forças de segurança realizam uma campanha de limpeza étnica" contra os rohingyas, afirmou a AI. "Continuam acontecendo incêndios no estado de Rakhine. Não é como se tudo tivesse parado em 5 de setembro", afirmou Phil Robertson, da Human Rights Watch (HRW), que exibiu fotos de satélites. A ONG voltou a pedir que a ONU adote sanções a Mianmar.
Os investigadores da ONU sobre a situação dos direitos humanos em Mianmar reiteraram nesta terça-feira a demanda de "acesso completo e sem obstáculos" ao país, onde, afirmaram, acontece uma grave crise humanitária.
"É importante que possamos ver com nossos próprios olhos os lugares onde aconteceram as supostas violações e conversar com as pessoas afetadas e as autoridades", declarou o presidente da missão, Marzuki Darusman, ao Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra.
Rejeição aos rohingyas
A rejeição aos rohingyas, considerados estrangeiros em situação ilegal neste país com mais de 90% de sua população budista, é muito comum entre os birmaneses.
Desde que a nacionalidade birmanesa foi retirada do grupo em 1982, os rohingyas passaram a sofrer muitas limitações: não podem viajar nem casar sem autorização, não têm acesso ao mercado de trabalho nem aos serviços públicos (escolas, hospitais).No ano passado, na Assembleia Geral da ONU, Aung San Suu Kyi havia prometido defender os direitos desta minoria e opor-se aos "preconceitos e à intolerância".
"Este compromisso com o retorno dos refugiados segundo os termos do acordo de 1992 é algo novo e importante", disse Richard Horsey, analista independente que mora em Mianmar. Mas longe do discurso destinado especialmente à comunidade internacional, os birmaneses consideram amplamente que os rohingyas não são parte da nação birmanesa.
Aung San Suu Kyi sugeriu o contrário nesta terça-feira ao afirmar que segue a posição de seu pai, Aung San, líder da independência birmanesa: a Constituição de 1947 permitiu a uma grande parte dos rohingyas obter um estatuto legal e o direito a voto. Mas a ditadura militar instaurada em 1962 utilizou o ódio contra os muçulmanos e a lei birmanesa sobre a nacionalidade de 1982 deixou os rohingyas apátridas.
Aung San Suu Kyi se distancia, diplomaticamente, do comandante das Forças Armadas, o general Min Aung Hlaing, que nas sombras é o homem chave deste caso. A questão dos rohingyas "é uma causa nacional e devemos permanecer unidos para estabelecer a verdade", ou seja, que esta comunidade apátrida não tem nada de birmanês, advertiu no sábado o general Min Aung Hlaing no Facebook.