As equipes de limpeza começaram a trabalhar ao amanhecer para tirar das ruas escombros, árvores, galhos, postes, cartazes e sinais de trânsito caídos, que ficaram aparentes logo após a água recuar nesta segunda. No domingo, a vizinhança de Brickell, no centro de Miami, distrito financeiro em frente ao mar, ficou inundada pelas águas que ultrapassaram os diques e invadiram quarteirões inteiros.
A costa de Miami, assim como suas ilhas, é propensa a inundações significativas mesmo com chuvas de menor intensidade, um problema endêmico da zona devido à falta de elevações e pelo aumento do nível do mar. Alguns moradores que se negaram a evacuar passeavam com seus cachorros e avaliavam com curiosidade, e certo alívio, os danos.
[SAIBAMAIS]"Se isto tivesse sido um furacão de categoria 4 (na escala Saffir-Simpson), o cenário seria diferente. Não teríamos eletricidade por semanas, mas, diferente disso, já a recuperamos esta manhã", afirmou à AFP Bob Lutz, um empresário de 62 anos.
"Assim, todos estamos contentes de que não aconteceu nada grave", acrescentou, aliviado de não ter saído de seu apartamento. "Se tivéssemos evacuado, teríamos ido para Tampa ou Naples, e isso teria nos colocado no olho da tempestade". "Mas foi um alagamento impressionante, era muita água". No porto esportivo de Brickell, os barcos estavam submersos e alguns totalmente afundados.
"Prefiro isso"
"Estamos agora em fase de recuperação", disse o prefeito de Miami-Dade, Carlos Giménez, acrescentando que 80% do condado ficou sem energia elétrica. "Mas nos salvamos do pior furacão (...). Muitos de nós vamos sofrer inconveniências e não teremos eletricidade por um tempo. Mas se tivesse que escolher, prefiro isso", continuou.
Rebaixado para a categoria de tempestade tropical após sua passagem por Naples, na costa oeste da Flórida, Irma tocou terra no domingo nos Keys do sul do estado como um poderoso furacão de categoria 4 - de uma escala de 5 - e rapidamente baixou para 3. Miami, que se preparava para uma catástrofe porque era previsto um ataque direto de categoria 5, se salvou da pior parte quando o olho furacão virou para oeste ao se encaminhar para o noroeste da Flórida.
De toda forma, as partes exteriores do furacão atingiram a cidade com ventos de 145 km/h e súbitos tornados tocaram terra. "Tinha um carro que a água ficou acima das rodas", contou à AFP Estrella Palacios, uma enfermeira de 53 anos que também ficou em Brickell. "É triste ver isso assim, mas esperávamos que fosse pior porque as notícias eram bem alarmantes".
Toque de recolher
Carlos Giménez estendeu o toque de recolher em todo o condado das 19h00 às 07h00 (locais) até novo aviso. Enquanto isso, os moradores de Miami foram informados de que poderão entrar na ilha para avaliar os danos em suas casas somente com comprovante de residência, uma vez que as autoridades considerem que a passagem é segura, o que poderia ocorrer na terça ou na quarta-feira.
Moradores que não evacuaram esta turística ilha de barreira em frente a Miami contaram à AFP que as ruas ficaram alagadas e que o vento derrubou as árvores. "É um espetáculo, mas não é um evento catastrófico", declarou Roberto Cuneo, morador de Miami Beach de 41 anos que decidiu não deixar o local. Segundo a sua contagem, as inundações chegaram a atingir os 30 cm.
Mas nos Keys da Flórida a situação era incerta já que as autoridades fecharam os portões de acesso. Do norte, os bloqueios começaram em Homestead, a 40 km de Key Largo, que é a primeira ilha do turístico recife conectado por pontes que atravessam o mar entre uma ilhota e outra. O governador da Flórida, Rick Scott, sobrevoou os Keys nesta segunda-feira junto com uma equipe da Guarda Costeira e informará sobre os danos durante a tarde.