Após o recesso, o Congresso dos Estados Unidos começou nesta quarta-feira (6/9) a votar para desbloquear fundos de emergência para as vítimas da tempestade Harvey, em um raro consenso entre a maioria republicana, a oposição democrata e o presidente Donald Trump. Paralelamente, o mandatário anunciou um surpreendente acordo com os legisladores para elevar o teto da dívida federal até 15 de dezembro, o que evitaria um descumprimento de pagamentos dos Estados Unidos no final de setembro. "Sempre concordaremos sobre o limite da dívida", disse Trump à imprensa, "porque é importante".
Harvey impactou o Texas em 25 de agosto, causando grandes inundações durante mais de uma semana, em particular em Houston, a quarta cidade do país, e alterando o retorno à atividade política em Washington. Imediatamente, Trump pediu uma quantia inicial para a agência federal de emergências, Fema, e para conceder empréstimos a pequenas empresas danificadas pela tempestade Harvey, algo rapidamente aceito pelos líderes de ambos os partidos.
A Câmara de Representantes aprovou nesta quarta-feira quase por unanimidade (419 votos contra três) um texto que prevê uma parcela inicial de 7,85 bilhões de dólares dos mais de 100 bilhões que se estima que será o prejuízo final causado pela catástrofe. Agora o texto passa ao Senado, que o votará nos próximos dias. "Após este desastre, nossa nação se uniu", disse o chefe da maioria republicana na câmara baixa, Kevin McCarthy. "Estamos com vocês e assim permaneceremos até que sejamos mais fortes que antes".
[SAIBAMAIS]Esta atitude contrasta com os longos debates que vieram na esteira do furacão Sandy em 2012. O nordeste, região atingida na época pelo desastre natural, é um reduto predominantemente democrata, ao contrário do Texas, um bastião conservador. Há cinco anos, os conservadores se negaram a assinar um cheque que não fosse compensado por reduções em outras áreas do orçamento; a maioria dos republicanos se opôs e a lei acabou passando com a ajuda dos democratas.
O espinhoso teto da dívida
Mas os líderes da maioria estão tentando aproveitar o espírito de unidade para aprovar ao mesmo tempo outra lei muito mais controversa: o aumento do teto da dívida pública americana. Nos Estados Unidos, o Congresso marca o máximo nível de endividamento do governo federal, atualmente de 19,9 trilhões de dólares. O Tesouro precisa que esse teto aumente nas próximas semanas para evitar um descumprimento dos pagamentos. Entretanto, aprovar mais endividamento é um paradoxo para muitos conservadores, que foram eleitos justamente para fazer o contrário. Por isso, o Executivo e os líderes do Congresso querem aprovar a medida como uma emenda ao texto sobre Harvey.
Os democratas apoiam esta tática, mas com condições: dizem sim a elevar o teto da dívida, mas apenas por três meses, não até o final de 2018 como querem os republicanos. Este prazo mais curto daria aos democratas mais possibilidades de negociar concessões, já que contam com uma minoria de bloqueio no Senado. Uma chantagem "ridícula e escandalosa", disse Ryan na manhã desta quarta-feira. Horas depois, após uma reunião na Casa Branca, os chefes das bancadas democratas disseram ter chegado a um acordo com Trump sobre este plano. "Chegamos a um acordo sobre a prorrogação por três meses do teto da dívida, que eles consideram sagrada e importante", disse o presidente a jornalistas.
Os senadores teriam que votar, assim, um único texto combinando a ajuda de emergência pelo Harvey, elevando o teto da dívida até o dia 15 de dezembro, e prevendo o financiamento do Estado federal até essa data. O ano fiscal de 2018 começa em 1; de outubro e as administrações não podem funcionar se seus créditos operativos não forem aprovados pelo Congresso antes dessa data. Esta solução permitiria dissipar de uma só vez a tensão, ao se aproximar do prazo limite no final de setembro. No entanto, o compromisso só adiaria até dezembro a inevitável disputa entre governo e oposição, sobretudo no tema migratório e de financiamento do muro na fronteira mexicana, que Trump está comprometido a construir e que os democratas não querem.