Agência France-Presse
postado em 06/09/2017 14:45
A vidente espanhola Pilar Abel, que em 20 de julho fez co que o pintor surrealista Salvador Dalí fosse exumado como parte de um processo de paternidade, não é a sua filha, indicou a Fundação Gala-Salvador Dalí nesta quarta-feira (6/9).
Em um evento muito midiatizado, o gênio do surrealismo foi exumado 28 anos depois de sua morte do túmulo no qual jaz no Teatro-Museu de Figueras, cidade catalã onde tanto ele como a autora da ação nasceram.
Os peritos extraíram de seu corpo embalsamado pelos, unhas e dois longos ossos para comparar o seu DNA com o de Pilar Abel, mulher de 61 anos que dizia ser filha de Dalí com uma empregada que supostamente manteve uma breve relação com ele.
Caso esta filiação tivesse sido confirmada, teria direito à quarta parte do patrimônio de Dalí, pertencente em sua totalidade ao Estado espanhol.
No entanto, "depois de analisar as amostras biológicas de Pilar Abel Martínez e as obtidas na exumação dos restos mortais de Salvador Dalí, (...) os resultados permitem excluir Salvador Dalí como pai biológico de María Pilar Abel Martínez", indicou a Fundação, citando informações transmitidas a seus advogados pelo tribunal madrilenho responsável pelo caso.
"O resultado não é nenhuma surpresa para a Fundação, posto que em nenhum momento houve indício algum da veracidade de uma suposta paternidade", acrescentou a instituição.
[SAIBAMAIS]Pilar Abel e seu advogado, Enrique Blánquez, disseram à AFP que até o momento não receberam nenhuma informação da Justiça. "Estou esperando que chegue a notificação", declarou o magistrado.
A Fundação Gala-Salvador Dalí criticou em todo momento a decisão judicial de exumar o corpo do pintor e apresentou um recurso que não foi aceito.
A instituição insistiu que toda a demanda se baseava apenas na declaração perante notório de uma mulher que assegurava conhecer a suposta relação encoberta entre o artista e a mãe da vidente.
A Fundação recordou em seu comunicado que reserva a possibilidade de pedir à demandante que cubra os custos da exumação, e apontou que "logo os restos mortais serão restituídos".
Um patrimônio colossal
"Como amigo, advogado e devoto de Dalí foi um alívio esse fim, porque conheci Dalí intensamente e sei de sua autenticidade", comentou com a AFP Miguel Domenech, que foi advogado do artista.
"Se tivesse ficado alguma coisa pendente, ele teria nos dito", afirmou Domenech, contente com o fim "deste episódio que deixa o rastro de uma série de incômodos, gastos importantes e de todo tipo, processuais e materiais".
Alinhado com o que a Fundação disse, acrescentou que agora "o que mais importa é que os restos ósseos que extraíram do corpo (...) voltem para o corpo".
O pintor catalão, famoso por obras como "A Persistência da Memória" e "O Grande Masturbador", morreu em Figueras em 23 de janeiro de 1989, aos 84 anos.
Deixou uma herança estimada em 136 milhões de dólares, que incluía propriedades imobiliárias na Catalunha e centenas de obras. Desde essa data, o montante aumentou com produtos derivados e vendas de ingressos.
Durante décadas, Dalí compartilhou a sua vida com Gala, ex-companheira do poeta francês Paul Éluard e musa que aparece em muitos de seus quadros, com quem não teve filhos.
Segundo o relato de Pilar Abel, que continha algumas lacunas, sua mãe conheceu Dalí trabalhando como empregada na casa de alguns amigos do pintor no povoado catalão de Cadaqués, onde ele passava longas temporadas em sua casa de Port-Lligat.
Após engravidar, se casou com outro homem e, meses depois, ela nasceu. Com apenas oito anos, sua avó teria revelado a ela sua suposta identidade.