Milhares de refugiados
A violência explodiu em 25 de agosto, quando os rebeldes do Exército de Salvação Rohingya de Arakan (ARSA, na sigla em inglês), que afirmam defender a minoria muçulmana, atacaram dezenas de delegacias de polícia.
O Exército birmanês reagiu com uma grande operação em Rakhine, uma área pobre e remota do país, o que obrigou a fuga de dezenas de milhares de pessoas. De acordo com o Exército de Mianmar, o balanço é de 400 mortos, quase todos muçulmanos.
Até o ano passado os rohingyas não haviam recorrido à luta armada, uma situação que mudou em outubro com os primeiros ataques do ARSA. Segundo as organizações humanitárias, 125.000 refugiados entraram em Bangladesh desde 25 de agosto, e milhares de pessoas estariam a caminho do país vizinho, algumas delas bloqueadas na fronteira.
Nesta quarta-feira, ao menos cinco crianças morreram no naufrágio de uma embarcação de rohingyas que fugiam de Mianmar, segundo a Guarda Costeira de Bangladesh.De acordo com o guarda de fronteira Aloysius Sangma, pelo menos três barcos repletos de refugiados rohingyas afundaram no rio Naf, que estabelece a fronteira entre Bangladesh e o extremo sudeste de Mianmar.
Considerados estrangeiros em Mianmar, onde mais de 90% da população é budista, os rohingyas ; quase um milhão de pessoas - são considerados apátridas, apesar da presença de algumas famílias há várias gerações no país. Eles não têm acesso ao mercado de trabalho, às escolas, nem aos hospitais. O avanço do nacionalismo budista nos últimos anos aumentou a hostilidade.
A situação torna o silêncio de Aung San Suu Kyi inaceitável no exterior. Alguns analistas consideram que ela é impotente diante do auge dos budistas extremistas e de um Exército que continua muito forte, inclusive politicamente, em um país que durante 50 anos foi uma ditadura militar.
Depois de investigar uma crise de violência anterior, a ONU denunciou uma grande operação de repressão "generalizada e sistemática", realizada essencialmente pelo Exército contra os rohingyas. A ONU considerou que a repressão teve como consequência uma "limpeza étnica" e, "muito provavelmente", crimes contra a humanidade.