"Lamentamos profundamente esta decisão do governo da Venezuela de tirar a Caracol Televisión do ar, nos tiraram das duas operadoras a cabo", afirmou nesta quinta-feira o diretor de notícias da Caracol, Juan Roberto Vargas, à emissora BLU Radio. Maduro havia denunciado há alguns dias uma "campanha terrível" da Colômbia contra seu governo e acusou diretamente meios de comunicação como a Caracol e os jornais El Tiempo e El Espectador.
A Caracol informou que a ordem de retirada do ar foi feita pela autoridade de telecomunicações venezuelana, a Conatel, que em fevereiro também determinou a saída da CNN em Espanhol e dois meses depois a do canal colombiano El Tiempo e do argentino Todo Noticias. Em 2014, o canal colombiano de notícias NTN24 também foi tirado do ar pelo organismo.
"Notícias Caracol sempre desempenhou o seu trabalho de maneira objetiva, verdadeira, seguimos sempre os princípios que consideramos fundamentais, que é oferecer jornalismo com contexto e escutar todos os pontos de vista. E isso é o que temos tentado fazer na Venezuela", disse Vargas.
"Como uma ditadura"
A ação contra um dos principais meios de comunicação privados da Colômbia prejudica ainda mais a relação entre os dois governos, que compartilham uma fronteira de 2.200 quilômetros, e elevaram o tom de suas acusações em meio à crise política e econômica que envolve a Venezuela.
[SAIBAMAIS]O presidente Santos, que acusa Maduro de levar a Venezuela para uma ditadura, lamentou a decisão. "Tenho que lamentar muitíssimo o que aconteceu, é uma demonstração a mais de um regime que não gosta das liberdades, um regime que está restringindo as liberdades de seus cidadãos", indicou o presidente a jornalistas.
Santos, que alterna a sua atividade política com o jornalismo, voltou a descrever o governo de Maduro como uma ditadura. "Temos dito que é um regime que se afastou do sistema democrático, e que cada vez mais está atuando como uma ditadura", sustentou.
A RCN Televisión, por sua vez, repudiou em comunicado o que descreveu como um ato "administrativo de censura" contra seu concorrente.
Na segunda-feira, tensionou ainda mais a relação com Maduro ao oferecer proteção e asilo à procuradora destituída Ortega, que fugiu da Venezuela denunciando uma perseguição política. Ortega aterrissou na sexta-feira em Bogotá junto com seu marido, o deputado governista Germán Ferrer, e na quarta-feira viajou para Brasília, onde afirmou ter provas contra Maduro e outros dirigentes chavistas sobre supostos casos de corrupção.
Destituída em 5 de agosto pela Assembleia Constituinte, a ex-funcionária disse que as evidências relacionam Maduro e seu círculo com a trama de corrupção da empreiteira Odebrecht. O novo procurador Tarek William Saab disse que a fala de Ortega "carece de toda validade". A Justiça venezuelana a investiga por mentir no exercício de suas funções, enquanto acusa seu marido de liderar uma rede de corrupção no Ministério Público.
Ortega, chavista de 59 anos, se rebelou por decisões contra o Parlamento de maioria opositora, cujas funções foram assumidas pela Assembleia. A separação definitiva veio com a instalação do órgão que redigirá uma nova Constituição, e que é desconhecido por governos como de Colômbia e Estados Unidos.
Imprensa condena
Organizações de imprensa na Venezuela repudiaram a decisão de Maduro de tirar do ar a emissora Caracol, considerando a ação um atentado à liberdade de expressão e informação. "Condenamos esta decisão que deixa em evidência o caráter ditatorial, autoritário, de hipersensibilidade à crítica que teve o governo de Nicolás Maduro", declarou o secretário-geral do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Imprensa (SNTP, em espanhol), Marco Ruiz.
Em comunicado, a Associação da Imprensa Estrangeira (APEX, em espanhol) também lamentou a decisão. "O fechamento de um meio de comunicação e de uma janela de informação vai contra as liberdades consagradas em princípios e textos aceitos por organizações e tratados internacionais dos quais a Venezuela faz parte", destacou.
O SNTP concordou em assinalar que na Venezuela há "um enfraquecimento cada vez maior do exercício dos direitos fundamentais como o de se expressar com liberdade e de estar informado de maneira oportuna". A APEX pediu ao governo e a Conatel que expliquem o motivo da saída do ar da Caracol TV, pois até agora não houve um pronunciamento oficial sobre a decisão.
São "medidas desproporcionais que ocorrem em meio a graves acusações por parte do Executivo venezuelano contra a imprensa", acrescentou a APEX. O SNTP assegurou que levará a instâncias internacionais "esta nova arremetida" do governo contra a imprensa.