Rome, Itália - O governo italiano e as ONGs que resgatam imigrantes no Mediterrâneo seguiam nesta quinta-feira em pé de guerra após as novas regras impostas pela Itália; A apreensão, na quarta-feira, da embarcação Iuventa usada pela ONG alemã Jugend Rettet por suspeitas de favorecer a migração clandestina na costa da Líbia, acirrou a disputa.
"Para nós, salvar vidas é e continuará a ser nossa prioridade", escreveu a organização alemã, que nega as acusações. "Lamentamos não poder estar no local onde se busca e resgata" pessoas, comentou a organização fundada em 2015 por um grupo de jovens que juntaram dinheiro para comprar o "Iuventa", com capacidade para 220 pessoas.
A embarcação alemã foi retida no mar na noite de terça-feira pela Guarda Costeira italiana e acompanhado até o porto siciliano de Lampedusa. A decisão da Procuradoria de apreender o barco foi tomada após quase um ano de investigações realizadas graças a uma "sofisticada tecnologia", afirma a nota divulgada pela polícia.
A relação das autoridades italianas com as ONGs que atuam no resgate de imigrantes no Mediterrâneo também gerou grande debate na opinião pública. Apenas três organizações humanitárias, de um total de nove, aceitaram aderir ao "código de conduta" para resgatar imigrantes no Mediterrâneo proposto pelas autoridades italianas.
A Itália, apoiada pela União Europeia (UE), quer regular as operações de resgate no mar Mediterrâneo, onde os guardas costeiros italianos, as patrulhas fronteiriças europeias e as ONGs socorrem os imigrantes que tentam chegar às costas da Europa a bordo de embarcações precárias.
O código estabelece, entre alguns pontos, a proibição de entrar em águas territoriais líbias, a obrigação de deixar ligado o radar de localização, o compromisso de não se comunicar ou enviar sinais luminosos para facilitar as partidas de embarcações, nem contatar traficantes. Da mesma forma, exige comprovar a preparação técnica dos socorristas, poder receber membros da polícia a bordo e cooperar com as autoridades no lugar de desembarque, além de declarar suas fontes de financiamento.
"Não se trata de dividir as ONG entre aquelas boas e as más. O que acontece é que as ONGs estão substituindo o Estado e cumprindo suas responsabilidades", ressaltou François Dumont, porta-voz de Médicos Sem Fronteiras, premiada com o Nobel da Paz em 1999, e que não aderiu ao código. "Se as ONGs não assinarem o código, será difícil que continuem operando", assegurou nesta quinta-feira o ministro italiano do Interior, Marco Minniti, em entrevista ao jornal La Stampa.