A oposição venezuelana estenderá a toda a Venezuela o seu protesto convocado para sexta-feira (28/7) em Caracas, em um desafio aberto ao governo de Nicolás Maduro, que proibiu as manifestações que afetem a votação, no domingo (30/7), da Assembleia Constituinte.
"As ruas da Venezuela são do povo, não da ditadura", respondeu em sua conta do Twitter a coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD).
Em um ultimato para que Maduro suspenda a eleição, os opositores preparam para sexta-feira uma grande marcha em Caracas e nesta quinta completam o segundo dia de uma greve de 48 horas, enquanto o número de mortos em quatro meses de protestos chega a 108, com os dois óbitos de hoje.
[SAIBAMAIS]A MUD advertiu que, se o governo não voltar atrás com a Constituinte, depois da greve e do protesto de sexta-feira, "boicotará" a votação para eleger aos 545 constituintes que reformarão a Carta Magna e que dirigirão o país por tempo indefinido com faculdades absolutas.
No entanto, diante de uma multidão de apoiadores, no encerramento da campanha da Constituinte, Maduro reiterou que "chovendo, trovejando ou relampejando, a Constituinte acontecerá", apesar das pressões internas e externas.
Com setores da capital paralisados pela greve, Maduro convocou a oposição a iniciar um diálogo antes das votações de domingo da Assembleia Constituinte.
"Proponho à oposição política venezuelana que abandone o caminho insurrecional (...) e que estabeleçamos nas próximas horas, antes da eleição e instalação da Assembleia Nacional Constituinte, uma mesa de diálogo", disse Maduro.
O presidente acrescentou que, se seus adversários não aceitarem cooperar, ele proporá aos constituintes que convoquem, "de maneira obrigatória, um diálogo nacional de paz com uma lei constitucional". "Vocês escolhem", afirmou Maduro, dirigindo-se à oposição.
"O imperador Donald Trump"
O ministro do Interior, Néstor Reverol, anunciou que a partir de sexta-feira ficam proibidas as manifestações que prejudiquem as eleições, e ameaçou com "prisão de cinco a dez anos" aqueles que interferirem na votação.
Reverol garantiu a segurança do processo durante um evento com a presidente do poder eleitoral, Tibisay Lucena. Os dois foram incluídos em uma lista de 13 funcionários do governo e militares sancionados na véspera pela administração de Donald Trump.
Os Estados Unidos justificaram a medida acusando essas figuras de "minar a democracia" e por sua "responsabilidade" em atos de violência e corrupção, e advertiram que os que "se somarem" à Constituinte estarão expostos a outras sanções.
"Sua majestade o imperador Donald Trump ordenou que suspendamos a Constituinte (...) e eu digo ao imperador Donald Trump que o povo manda na Venezuela", declarou Maduro.
O ministro da Defesa, general Vladimir Padrino, também rejeitou as sanções e prometeu que as votações serão garantidas pelas Forças Armadas, determinante no apoio ao governo e que Maduro deu enorme poder político e econômico.
Maduro acusa seus adversários de promoverem a violência para dar um golpe de Estado com apoio dos Estados Unidos.
Mas não são apenas os Estados Unidos que pressionam Caracas a desistir da Constituinte. Governos da América Latina, incluindo o Brasil, e da Europa têm expressado preocupação com o agravamento da crise e da violência.
"Um cheque em branco"
Segundo analistas, tanto a rejeição interna como externa afetam a legitimidade da Constituinte. O governo tenta evitar uma alta abstenção, depois dos 7,6 milhões de votos que a MUD diz ter contabilizado no plebiscito simbólico feito no dia 16 de julho contra a iniciativa.
"É a cartada definitiva, o tudo ou nada, de um governo que para manter-se no poder precisa suspender a democracia, e isso tem um custo", garantiu à AFP a analista Colette Capriles.
Maduro, cuja gestão é rejeitada por 80% dos venezuelanos segundo o instituto Datanálisis, garante que a Constituinte trará paz e riqueza econômica ao país. Já a oposição argumenta que ela só servirá para perpetuar o chavismo no poder e instalar um sistema comunista.
A oposição decidiu não participar da Constituinte, alegando que ela não foi convocada em referendo e que o sistema eleitoral foi projetado para que o governo faça uma Constituição à sua medida.
Com esse poder, poderia até mesmo eliminar o Parlamento de maioria opositora e a Procuradoria rebelde, que têm ameaçado dirigentes do governo.
Será um "cheque em branco", alertou a procuradora-geral, Luisa Ortega, veterana chavista que rompeu com Maduro.