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Devastada cidade iraquiana de Mossul começa a ser reconstruída

Na segunda-feira (13/7), a Agência da ONU para os Refugiados advertiu: "Os serviços básicos como água e eletricidade e outras infraestruturas fundamentais, especialmente escolas e hospitais, terão que ser restabelecidos ou reparados"

Perto da devastada Cidade Antiga de Mossul, Maher Al Nejmawi observa, satisfeito, como um pedreiro pinta sua loja, abandonada há meses em razão dos combates entre o exército iraquiano e o grupo Estado Islâmico (EI). "Um carro-bomba explodiu aqui e ali um foguete atingiu o prédio", afirma o iraquiano de 29 anos, que vende pneus e baterias de carros.

A tinta branca, ainda fresca, contrasta com a paisagem desoladora: ruas cheias de escombros, prédios em ruínas e lojas com fachadas crivadas de balas. Agora que as autoridades iraquianas anunciaram a vitória contra o grupo extremista em Mossul, os moradores dos bairros da zona oeste da cidade, desfigurada pelos bombardeios e fogo de artilharia, se esforçam para recuperar um toque de normalidade.

Em frente de sua casa, Salem Abdel Jalek supervisiona os trabalhadores que colocam blocos de concreto para reconstruir as lojas adjacentes. "A violência dos ataques aéreos e explosões de carros-bomba faziam os imóveis tremer. Estas lojas foram muito danificadas e temíamos que desabassem, então a derrubamos para reconstruí-las melhor", explica este pai de oito filhos, o mais velho deles de 12 anos.

- Frango assado -
O lixo acumulado em uma rua comercial no bairro Al Khadida desprende um odor pestilento. Em frente a uma loja de sorvetes, a cratera causada por um ataque aéreo expõe a tubulação danificada.

Aos pés dos edifícios em parte destruídos, algumas lojas reabriram. Mesas e cadeiras de restaurantes invadem as calçada e nas máquinas os frango assam dando voltas e voltas. Este bairro e outros da zona oeste de Mossul localizados nos arredores da Cidade Antiga estão sob controle do exército iraquiano desde o início da ofensiva lançada em fevereiro.

Os combates mais intensos foram travados na Cidade Antiga. "Antes não era possível andar aqui, havia destroços por toda parte, mas há dois meses recuperamo um pouco de normalidade", comemora Ahmed Hamed, prestes a desfrutar de um churrasco no terraço de um restaurante com amigos.

Este engenheiro de 49 anos reconhece, porém, que não se pode falar de normalidade como tal. "As ruas, água corrente, eletricidade... Não resta nada", lamenta.

;O EI nos destruiu;
Um pouco mais adiante, alguns trabalhadores lançam as bases de cimento para sustentar novas tubulações de esgoto. "Há um mês estamos trabalhando nos distritos libertados de Mossul", explica Amar Anwar, uma autoridade local. "Há poucos fundos destinados à reconstrução por causa da situação financeira do país, mas as ONGs vão nos ajudar", afirma, esperançoso.

Na segunda-feira (13/7), a Agência da ONU para os Refugiados advertiu: "Os serviços básicos como água e eletricidade e outras infraestruturas fundamentais, especialmente escolas e hospitais, terão que ser restabelecidos ou reparados. A reconstrução provavelmente será lenta e cara, mas é essencial para garantir a estabilidade".

A mercearia onde Luai Hazem trabalha voltou a oferecer produtos básicos como massas, feijões enlatados, ovos, garrafas de água e fraldas.

"Agora há de tudo, mas também é mais caro", diz o jovem. "Podemos ter energia elétrica por meio de geradores, mas os preços são mais elevados do que quando estabelecidos pelo governo", lamenta o funcionário de 20 anos, que aparenta muito mais. "O EI nos destruiu", conclui, justificando a sua aparência.