O Prêmio Nobel da Paz chinês Liu Xiaobo, símbolo da luta pela democracia em seu país, deixou a prisão após ter sido diagnosticado no mês passado com um câncer de fígado em fase terminal, anunciou nesta segunda-feira (26/6) o advogado do ativista à AFP.
A administração penitenciária confirmou a notícia dada pelo advogado.
A doença foi diagnosticada em 23 de maio e o intelectual dissidente, encarcerado há oito anos, foi colocado poucos dias depois em liberdade condicional, de acordo com o advogado Mo Shaoping.
"Está sendo tratado em um hospital de Shenyang (província de Liaoning, nordeste). Não tem nenhum plano especial. Está apenas recebendo tratamento por sua doença", informou o advogado.
Liu Xiaobo, atualmente com 61 anos, professor, intelectual e dissidente, cumpria desde 2009 uma pena de 11 anos de prisão por "subversão", depois de ter sido um dos autores da Carta 08, um texto que defendia a democracia na China.
Ele ainda tinha três anos para cumprir de sua condenação.
O dissidente venceu o Nobel da Paz em 2010, quando já estava detido. Por sua ausência, o prêmio foi entregue de forma simbólica em 10 de dezembro do mesmo ano em Oslo. O ativista foi representado por uma cadeira vazia durante a cerimônia.
O Comitê Nobel reagiu imediatamente à notícia da libertação.
"O Comitê está feliz por Liu Xiaobo finalmente deixar sua prisão, mas lamenta, ao mesmo tempo, que fosse necessária uma doença para que as autoridades chinesas aceitassem libertá-lo. Liu Xiaobo conduziu uma luta implacável pela democracia e os direitos humanos na China e teve que pagar um alto preço por seu compromisso", destacou.
Único Nobel da Paz na prisão no mundo, Liu Xiaobo se tornou um incômodo para o regime comunista. Washington e a União Europeia, assim como muitos países ocidentais, exigem sua libertação em uma ampla mobilização internacional.
A atribuição do Prêmio Nobel provocou indignação na China, que congelou as relações de alto nível com a Noruega, o que afetou as exportações de salmão norueguês. Pequim classificou Liu Xiaobo de "criminoso".
;Incondicional;
Após o anúncio de sua saída da prisão, seus partidários expressaram preocupação com sua saúde, questionando o tratamento dado por Pequim e exigindo a libertação "incondicional".
"Liu Xiaobo foi diagnosticado com uma doença grave na prisão, onde ele nunca deveria ter estado", reagiu à AFP Patrick Poon, pesquisador da ONG Anistia Internacional.
"As autoridades chinesas devem garantir imediatamente que Liu Xiaobo receba tratamento médico adequado, com um acesso efetivo sua família", acrescentou Poon, que pediu uma libertação "imediata e sem condições".
Su Yutong, jornalista e ativista chinesa exilada na Alemanha, declarou estar "extremamente chocada e entristecida" com o destino de seu amigo. "As autoridades devem deixá-lo partir para o exterior para receber um tratamento adequado", pediu em uma mensagem enviada à AFP.
"Não se sabe se ele foi submetido na prisão a tortura ou tratamento desumano, mas (...) ele não podia escrever, nem falar, nem exercer a sua liberdade de pensamento. O que, como um intelectual, deve ter sido a pior tortura", considerou.
Destino da esposa
Além disso, o destino da esposa de Liu Xiaobo, Liu Xia, permanece um mistério: de acordo com Patrick Poon, ela permanecia sob prisão domiciliar nesta segunda-feira.
Embora não seja alvo de qualquer acusação formal, Liu, detida em sua casa em Pequim desde 2010, não tem acesso à internet, não tem permissão para receber visitas em sua casa e raramente pode falar por telefone com seus familiares.
A AFP não conseguiu entrar em contato com Liu Xia nesta segunda-feira.
Liu Xiaobo, então professor da Universidade Normal de Pequim, participou em 1989 do movimento pró-democracia da Praça Tiananmen (Paz Celestial), iniciado pelos estudantes. Preso após a repressão do movimento, o opositor passou um ano e meio na prisão, sem nunca ter sido condenado.
Enviado para um campo de reeducação "pelo trabalho" entre 1996 e 1999 e expulso da universidade, tornou-se um dos líderes do centro independente Pen Chine, um grupo de escritores.
"Num momento em que a China quer um maior papel internacional é conveniente que demonstre humanidade e compaixão por um homem que nunca cometeu um crime, mas que tem dedicado sua vida à literatura e à liberdade de expressão", declarou nesta segunda-feira o Pen Hong Kong, que também pediu sua libertação "incondicional".