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Nicolás Maduro aposta na Constituinte em meio à escalada da crise

Maduro concluiu na quarta-feira (21/6) as mudanças de gabinete para completar suas postulações à Constituinte, nas quais se destacam o deputado Diosdado Cabello, a chanceler Delcy Rodríguez e sua esposa, Cilia Flores


Nos protestos desta quinta-feira, militares lançaram bombas de gás lacrimogêneo contra os manifestantes no leste de Caracas, o que provocou violentos confrontos com jovens encapuzados. Jornais locais divulgaram fotografias e vídeos nos quais se vê um membro da Guarda Nacional atirando contra David Vallenilla nas imediações da base militar de La Carlota.

Após a morte de Vallenilla, dirigentes da oposição convocaram os manifestantes a "trancar" as ruas de toda a Venezuela ao meio-dia desta sexta-feira, por duas horas."Que não reste uma rua, avenida, autoestrada livre. Vamos paralisar o país", disse à imprensa o deputado José Manuel Olivares em nome da opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD).

[SAIBAMAIS]Em entrevista coletiva com correspondentes estrangeiros, Maduro ratificou, nesta quinta-feira, que o uso de tiros de cartucho para o controle da ordem pública está "proibido". "A ordem é muito clara. Quem a violar, vai preso (...). A guarda e a polícia fizeram um esforço heroico e devem continuar fazendo, sem armas de fogo, sem escopetas, que estão proibidas, com água e o gás lacrimogêneo, que está permitido".

Desde 1; de abril, a atual onda de protestos já deixou 75 mortos e mais de 1.500 feridos.

"Um refúgio para resistir"
Respaldado por decisões do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) e do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Maduro avança com seu projeto de Constituinte, que considera fundamental para devolver a estabilidade política e econômica ao país. "Vão fazer história, história grande neste país", assegurou ao agradecer aos funcionários que deixaram seus cargos para lançar suas candidaturas à Constituinte.

Além de Cabello, Rodríguez e Flores, há a deputada e ex-ministra da Defesa Carmen Meléndez, o ex-vice-presidente Aristóbulo Istúriz e o ex-ministro e ex-governador Adán Chávez, irmão do falecido presidente Hugo Chávez.

Cabello, vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), é mencionado por setores da oposição como o futuro presidente da Constituinte, com a qual ampliaria ainda mais a sua influência que, segundo os especialistas, já é vista no governo, na Força Armada e nos aparatos de Segurança e de Inteligência.

A Constituinte irá reger o país por um tempo indeterminado como um "superpoder" e será composta por 545 legisladores, que, de acordo com a oposição, serão eleitos por um sistema "fraudulento" que garantirá o controle pelo governo. "A Constituinte é para o PSUV, mas, sobretudo, para o ;madurismo;, [e será] apenas um guia, uma desculpa para obter um maior poder de negociação, um refúgio para resistir", assegurou o cientista político Michael Penfold.

";Boomerang; político"
Mas os analistas advertiram que a iniciativa de Maduro, além de intensificar a crise, pode agradar a fissura aberta pela procuradora. "Provavelmente também acabará sendo um afiado ;boomerang; político", acrescentou Penfold.

Ortega, que denunciou que a Justiça é usada para "perseguir a dissidência política", enfrentará um possível julgamento depois que o TSJ aceitou um recurso do deputado da situação Pedro Carreño, que também pediu a sua destituição por "insanidade mental". A procuradora lidera um grupo de chavistas que sustenta que Maduro "está destruindo o legado" de Chávez.

Penfold acredita que o governo está ameaçado à medida que "as fissuras dentro do chavismo e da esfera militar se aprofundam". Mas ainda não é certo que isto aconteça. Esta semana, Maduro anunciou a renovação da cúpula da Força Armada e ratificou como ministro da Defesa o general Vladimir Padrino López, que lhe declarou "lealdade incondicional"