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Centristas de Macron barram oposição nas eleições legislativas

Movimento do presidente centrista Emmanuel Macron obteve neste domingo (18/6) uma maioria absoluta esmagadora nas eleições legislativas na França

Com sua promessa de renovação da vida política e uma bateria de reformas, o movimento do presidente centrista Emmanuel Macron obteve neste domingo (18/6) uma maioria absoluta esmagadora nas eleições legislativas na França.

A República em Marcha (LREM) de Macron, movimento criado há pouco mais de um ano, e seu aliado centrista do MoDem barraram os principais partidos históricos de esquerda e direita com cerca de 360 assentos de 577, muito mais do que os 289 necessários para a maioria absoluta, segundo as estimativas preliminares publicadas pelos institutos de opinião.

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Embora folgada, a vitória é inferior às previsões de pesquisas recentes que chegaram a apontar até 470 assentos aos centristas. Essa votação destacou-se por um índice recorde de abstenção, que deve ultrapassar os 56%, segundo os institutos de pesquisa. A vitória anunciada do partido do presidente, juntamente com um desinteresse crescente pela política, dissuadiu muitos eleitores de comparecer às urnas.

"Há um ano, ninguém teria imaginado uma renovação política semelhante", comemou o primeiro-ministro, Edouard Philippe. A mudança na Assembleia Nacional salta aos olhos: metade dos novos deputados nunca ocupou cargos legislativos e procede da sociedade civil, haverá muitos mais jovens e mulheres, e uma maior diversidade étnica.

[SAIBAMAIS]

Na opinião do professor de Direito Constitucional Didier Maus, "tirou-se tudo o que representava o sistema anterior e se está tentando outra coisa". Essas eleições desembocam na "maior renovação do elenco político desde 1958, e talvez 1945". O presidente mais jovem da história da França - tem 39 anos -, e praticamente desconhecido há apenas três anos, estabeleceu como prioridade reformar todo o país com um leque de propostas socioliberais.

A nova Assembleia Nacional começará a votar três projetos de lei: um sobre a moralização da vida pública - após uma campanha desencadeada por diferentes escândalos político-financeiros - outro para reforçar as medidas de segurança contra o terrorismo e um terceiro sobre a reforma das leis trabalhistas.

Oposição despedaçada

Com esta vitória, o europeísta Emmanuel Macron ficará em posição de força na quinta e sexta-feira, durante a reunião do Conselho Europeu, em Bruxelas. Em pouco mais de um mês como presidente, Macron ganhou reputação internacional de homem carismático.

Todos guardaram a imagem de seu firme aperto de mãos com o presidente americano, Donald Trump - interpretado como um desafio - e sua liderança mundial na luta contra as mudanças climáticas quando os Estados Unidos decidiram deixar o acordo. Internamente, há quem diga a vitória eleitoral nas legislativas se deve unicamente à sua personalidade arrebatadora. Os demais partidos terão que se contentar com esses resultados fracos.

A aliança dos conservadores deve terminar com de 126 a 131 deputados, dos quais uma parte está disposta a apoiar o partido de Macron, sempre segundo estimativas dos institutos de opinião. "É mais que uma derrota, é o final de uma época", comentou a ex-ministra de direita Valérie Pécresse. Os socialistas perderam a maioria e ficaram com entre 45 e 50 assentos após o impopular governo de François Hollande, marcado pelo desemprego e pelos atentados extremistas.

O partido de ultradireita Frente Nacional (FN) deve passar de dois para oito assentos. Sua líder, Marine Le Pen, finalista com Macron nas eleições presidenciais de maio, sobrevive à hecatombe, com seu primeiro mandato parlamentar. Uma vitória amarga para quem queria liderar o primeiro partido da oposição e sequer terá um grupo parlamentar próprio.

"Fui eleita com um excelente resultado", disse Le Pen, que, aos 48 anos, representará na Assembleia Nacional seu reduto de Hénin-Beaumont. Louis Aliot, vice-presidente da Frente Nacional e marido de Marine Le Pen, também foi eleito deputado. O líder da esquerda radical francesa, Jean-Luc Mélenchon, anunciou que foi eleito deputado no segundo turno das legislativas, e que seu movimento, França Insubmissa, poderá formar um grupo parlamentar próprio. Mélenchon se impôs na votação em Bouches-du-Rhône, sudeste, e sua formação, segundo os institutos de pesquisa, teria conquistado 15 cadeiras, o mínimo necessário para formar um grupo.

"O povo francês dispõe na Assembleia Nacional de um grupo França Insubmissa", que será "disciplinado e ofensivo", disse, em discurso transmitido pela TV, antes de anunciar no Twitter sua eleição como deputado. Mélenchon, 65, foi um dos protagonistas surpreendentes das eleições presidenciais de maio, ao obter um resultado significativo no primeiro turno (19,58% dos votos) pouco depois de fundar seu movimento.

Como manda a tradição, o primeiro-ministro, Edouard Philippe, apresentará, segunda ou terça-feira, a dimensão de seu governo. Edouard Philippe disse neste domingo que "os franceses preferiram a esperança à cólera". "Os franceses preferiram em sua grande maioria a esperança à cólera, o otimismo ao pessimismo e a confiança em si mesmo", afirmou Philippe. Para ele, a maioria "está unida por trás do governo para colocar em prática" o programa de Macron. Mas "esta maioria deve ser aberta e estar disposta a acolher todas as pessoas de boa vontade".