Os combatentes curdos e árabes avançavam nesta sexta-feira em um bairro do oeste de Raqa, principal reduto na Síria do grupo Estado Islâmico (EI), onde a coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos intensificou os bombardeios aéreos.
As Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas por Washington, entraram na terça-feira na cidade, sete meses depois de lançarem uma importante ofensiva para expulsar os extremistas de sua "capital" na Síria.
Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), na sexta-feira tomaram uma parte do bairro periférico de Jazra, a oeste da cidade.
Em outras partes do bairro continuavam os violentos combates onde a coalizão bombardeou na quinta-feira à noite um cibercafé, em que pelo menos 15 pessoas morreram, segundo OSDH.
"Vinte e três civis morreram nesta quinta-feira à noite" em virtude dos "25 ataques aéreos", afirmou o OSDH.
"Os bombardeios da coalizão internacional continuaram toda a noite em Raqa e em seus arredores", informou à AFP o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.
Os bombardeios aéreos da coalizão buscam, segundo Rahman, "quebrantar as capacidades do EI, abrir a via às FDS no leste da cidade e [permiti-las] lançar o cerco em outras frentes".
As FDS, também apoiadas em terra, estão posicionadas a leste, ao norte e a oeste de Raqa, os territórios do sul da cidade e do Eufrates estão controlados pelos extremistas.
40.000 crianças em perigo
Segundo o seu porta-voz, Talal Sello, as FDS avançavam na sexta-feira em várias frentes em Raqa.
No leste da cidade "tomaram o controle do bairro de Meshleb" e "procedem atualmente para limpá-lo de minas e artefatos explosivos", declarou à AFP.
De lá devem avançar para o bairro limítrofe de Al-Senaa, onde também houve bombardeios durante a noite, segundo o OSDH.
Os combatentes curdos e árabes sírios avançam igualmente na periferia norte de Raqa, segundo o seu porta-voz.
Abu Mohamad, ativista do coletivo "Raqa is being salughtered silently" ("Raqa está sendo massacrada em silêncio") qualificou os bombardeios da coalizão como "absurdos".
[SAIBAMAIS]Afirma que, além dos bombardeios, as condições de vida pioram com a falta de água e de eletricidade, e com a abertura dos comércios por apenas "uma ou duas horas" ao dia.
"A vida de mais de 40.000 crianças está em perigo", advertiu o Unicef nesta sexta-feira.
"As crianças estão sendo privadas de suas necessidades mais básicas", afirmou o diretor regional desta agência da ONU, Geert Cappelaere.
"Os pais estão diante de uma situação impossível", assegurou Puk Leenders, um responsável do Médicos Sem Fronteiras (MSF).
"Ou ficam em Raqa e expõem os seus filhos à violência e aos bombardeios aéreos ou tentam fazê-las passar pela linha de frente sabendo que podem ser vítimas do fogo cruzado e atravessar campos minados", assinalou.
"Prioridade"
Raqa, capturada pelos extremistas em 2014, se tornou o símbolo das atrocidades do EI e a base para o planejamento de atentados no exterior.
Segundo o Pentágono, restam "até 2.500" combatentes do EI na cidade.
Dezenas de milhares de civis fugiram da cidade e de seus arredores desde que as FDS lançaram em novembro a sua vasta operação para expulsar o EI de seu principal reduto na Síria.
Ainda restam em Raqa atualmente cerca de 160.000 pessoas, diante das 300.000 de antes do começo da guerra, em 2011, considera a ONU.
A batalha de Raqa é uma das principais frente da guerra de múltiplos beligerantes que sacode a Síria desde 2011 e já deixou mais de 320.000 mortos.
O governo de Bashar al-Assad estima que recuperar Raqa seja uma "prioridade", mas suas tropas ainda estão distantes da cidade.
Na terça-feira conseguiram entrar na província de mesmo nome pelo oeste e, ajudados por bombardeios russos, tomaram do EI "20 povoados", segundo o OSDH.
Uma fonte militar síria disse na terça-feira à AFP que o objetivo do avanço das forças do governo na província de Raqa é "garantir a segurança da província [vizinha] de Aleppo contra os ataques dos extremistas".