Washington, Estados Unidos - Em uma audiência perante o Senado, o ex-diretor do FBI James Comey irá revelar nesta quinta-feira as circunstâncias de sua demissão por Donald Trump, principalmente como resistiu às pressões do presidente para poupar um de seus conselheiros.
A audiência, perante a Comissão de Inteligência do Senado, começará às 14h00 GMT (11h00 de Brasília) e será transmitida pelos principais canais de televisão americanos.
O conteúdo do seu testemunho foi parcialmente divulgado. A declaração de abertura de Comey foi publicada na quarta-feira, na forma de um relato detalhado de suas conversas com o bilionário desde janeiro, provocando uma verdadeira explosão política.
Ele confirma o que foi vazado na imprensa: Donald Trump pediu-lhe que abandonasse qualquer investigação sobre Michael Flynn, seu conselheiro para a Segurança Nacional que renunciou em fevereiro por não ter revelado o conteúdo de suas conversas com o embaixador russo nos Estados Unidos.
"Ele me disse: ;espero que possa encontrar uma forma de deixar isso passar, de deixar Flynn em paz. É um homem de bem. Tenho a esperança de que possa se esquecer disso;", teria dito Trump a Comey em uma conversa na Casa Branca.
Donald Trump nega ter feito tal pedido.
O ex-chefe do FBI relata ainda detalhes sobre um jantar na Casa Branca, em 27 de janeiro, durante o qual o presidente americano teria dito: "preciso de lealdade, espero lealdade".
Na época, Comey conduzia uma investigação sobre as relações entre a Rússia e o comitê de campanha de Trump nas eleições de 2016.
O advogado particular de Trump, Marc Kasowitz, disse que o presidente se sente "completa e totalmente confortado" com o testemunho de Comey.
Trump está "satisfeito" que o ex-diretor do FBI "tenha finalmente confirmado publicamente seus informes privados de que o presidente não era investigado em qualquer apuração relacionada com a Rússia", completou Kasowitz.
"Nada de ilegal"
Em três ocasiões entre janeiro e março, Comey efetivamente confirmou a Trump que ele não era alvo da investigação.
Mas ele rejeitou os pedidos do presidente para "dissipar essa nuvem" da investigação russa sobre a sua presidência.
A audiência de Comey será determinante para definir se essas pressões representaram uma tentativa de obstrução da Justiça, um debate jurídico de implicações políticas.
A maioria dos democratas não ousa falar de impeachment. Mas a palavra já não é mais um tabu, uma vez que dois membros da Câmara de Representantes relançaram o pedido de abertura do processo de destituição, Al Green e Brad Sherman.
O líder dos democratas e vice-presidente da Comissão de Inteligência do Senado, Mark Warner, denunciou uma "violação clara das orientações estabelecidas após Watergate para evitar a interferência política da Casa Branca em investigações do FBI", referindo-se ao escândalo que derrubou Richard Nixon em 1974.
Para o impeachment de Trump, no entanto, "a barra é mais alta", alerta o democrata Adam Schiff. "É preciso convencer o Congresso e o país que o seu comportamento foi tão grave que requer esta solução".
Para proteger a independência da investigação russa, a Justiça nomeou um promotor especial, Robert Mueller, em 17 de maio.
Em entrevista à rede MSNBC, o presidente da Câmara de Representantes, o republicano Paul Ryan, concordou que pedir lealdade não foi adequado.
Mas muitos republicanos enfatizam que o ex-chefe do FBI não foi impedido de trabalhar.
"Não vejo nada de ilegal", assegura Richard Burr, presidente da comissão que o interrogará nesta quinta-feira.