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Estados Unidos decidem por manter alívio das sanções ao Irã

Na sexta-feira, as eleições presidenciais no Irã serão determinantes para o futuro do presidente moderado Hassan Rohani e sua política de abertura internacional

Apesar da retórica hostil, o governo dos Estados Unidos decidiu manter o alívio das sanções contra o Irã, uma boa notícia para o presidente e candidato Hassan Rohani um dia antes das eleições presidenciais cruciais para sua política de abertura. A decisão, anunciada na quarta-feira, de prosseguir com a política da administração americana anterior de suspender gradualmente as sanções como parte do acordo nuclear era muito aguardada, em particular por Rohani seu governo.

O presidente dedicou a maior parte de seu primeiro mandato de quatro anos às negociações nucleares e ao alcance do acordo com as grandes potências, que permitiu ao Irã sair um pouco de seu isolamento e atrair investimentos estrangeiros. O acordo assinado em julho de 2015 entrou em vigor em janeiro de 2016 e pretende garantir a natureza estritamente pacífica do programa nuclear iraniano, em troca de uma retirada parcial das sanções internacionais.

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Mas a sensação não era de vitória nesta quinta-feira em Teerã, onde o porta-voz da diplomacia ressaltou sobretudo a adoção de novas sanções americanas relacionadas ao programa de mísseis balísticos do Irã, sinal da animosidade persistente entre os dois países.

Para o porta-voz Bahram Ghassemi, a decisão de impor sanções "unilaterais e ilegais" reduze "os resultados positivos da aplicação do acordo nuclear por Washington. Ghassemi denunciou "a má-fé" dos Estados Unidos e assegurou que o país tem a intenção de "prosseguir com seu programa de mísseis" balísticos convencionais, sem ogivas nucleares.

"Temos o direito de desenvolver nossas capacidades de defesa". O Departamento do Tesouro americano adotou novas sanções contra funcionários da Defesa do Irã vinculados ao programa de mísseis de Teerã. O Irã pretende aplicar medidas recíprocas contra empresas e cidadãos americanos acusados "de violações flagrantes dos direitos humanos" por seu apoio a Israel e a "grupos terroristas" do Oriente Médio, disse o porta-voz.

As relações entre Washington e Teerã, que romperam laços diplomáticos alguns meses depois da revolução islâmica de 1979, pioraram desde a chegada ao poder do presidente americano Donald Trump em janeiro. Trump chamou o acordo nuclear alcançado por seu antecessor Barack Obama de um dos "piores" que já viu e determinou novas sanções contra o Irã, país acusado de apoiar movimentos "terroristas", de abusos dos direitos humanos e por seu programa balístico.

Mas não cumpriu a promessa eleitoral de "romper" o acordo em caso de vitória. O texto pode, efetivamente, beneficiar empresas americanas, o que já acontece no caso da fabricante de avões Boeing, que vendeu 80 aeronaves ao Irã desde o alívio das sanções. Na sexta-feira, as eleições presidenciais no Irã serão determinantes para o futuro do presidente moderado Hassan Rohani e sua política de abertura internacional.

Rohani enfrentará o religioso conservador Ebrahim Raisi, que chamou de "frágeis" as negociações iranianas do acordo nuclear. De acordo com Raisi, as concessões feitas às grandes potências (Estados Unidos, China, Rússia, Reino Unido, França e Alemanha) foram muito grandes e o Irã obteve poucos benefícios.

Mas ele não questionou o texto desejado pelo guia supremo, o aiatolá Ali Khamenei, do qual é próximo. A votação, com 56,4 milhões de eleitores registrados, acontecerá um dia antes do início, sábado, da visita de Donald Trump a Arábia Saudita, grande rival regional do Irã.