Em meio às tentativas de minimizar os relatos de que o presidente Donald Trump compartilhou informações confidenciais com autoridades russas, a Casa Branca sofreu ontem um segundo golpe, que pode colocar o presidente Donald Trump na mira de um processo de impeachment. Segundo o jornal The New York Times, James Comey, recém-afastado da direção do FBI (polícia federal), relatou em um memorando que o mandatário pediu o fim das investigações sobre o ex-conselheiro de Segurança Nacional Michael Flynn, que deixou o cargo depois de a imprensa americana revelar seus encontros reservados com o embaixador russo, Sergey Kislyak, durante a campanha eleitoral. A interferência do presidente no caso poderia configurar obstrução de Justiça, o mesmo motivo que levou à abertura do processo de impeachment contra Richard Nixon, em 1973, e à sua renúncia, no ano seguinte, como desdobramento do escândalo Watergate.
Comey teria registrado o suposto diálogo com Trump em um texto que faria parte de um pacote de documentos deixados pelo ex-diretor do FBI como possíveis provas da tentativa de Trump de influenciar a investigação. Embora Flynn tenha deixado o cargo assim que vieram a público as reuniões com Kislyak, ele não foi o único assessor próximo do presidente a manter contato com emissários do Kremlin. As relações entre a equipe de Trump e funcionários de Moscou são investigadas no âmbito das suspeitas de interferência russa em favor do republicano na eleição de 2016.
A confiabilidade do presidente estava em questão desde a véspera, quando o Washington Post revelou que ele teria passado detalhes sigilosos sobre uma ameaça terrorista durante encontro que teve, na semana passada, com o embaixador Kislyak e o chanceler russo, Sergei Lavrov. Segundo o Times, a informação citada por Trump foi fornecida pela inteligência de Israel, principal aliado dos EUA no Oriente Médio, que não autorizou o compartilhamento. O sucessor de Flynn, H.R. McMaster, tomou a dianteira dos esforços para convencer a imprensa de que a reunião com Lavrov e Kislyak foi ;totalmente apropriada;.
Crise constitucional
Mesmo que o presidente não tenha violado normas sobre o manejo de informações sigilosas, o caso pode gerar receios entre aliados dos EUA, além de alimentar as turbulências que rondam a Casa Branca em torno da ;conexão russa;. Para Anthony Gaughan, professor de direito da Drake University, em Iowa, Trump está em maus lençóis: ;Os EUA estão a caminho de uma crise constitucional;.O estudioso explica que o presidente está legalmente autorizado a retirar a classificação confidencial de qualquer informação, mas avalia que o último incidente foi um ;grande erro político e estratégico;. Gaughan acredita que uma acusação por traição seja difícil de ser sustentada, mas ressalta que o presidente pode ver o fim de sua empreitada política se for culpado de obstruir as investigações do FBI. ;Segundo a Constituição dos EUA, a obstrução de Justiça é crime grave e abre caminho para o impeachment.;
O comportamento de Trump no episódio da ;conexão russa; começa a suscitar comparações com o caso Watergate e a renúncia de Nixon. Em 1974, a descoberta de que o mandatário fazia gravações secretas na Casa Branca sustentou a acusação de obstrução de Justiça. ;Agora, há indicações de que o próprio Trump pode ter gravado conversas com Comey, o que sugere que a história está se repetindo;, observa o professor.
A intensificação da crise política pode forçar membros da maioria governista no Congresso e até aliados da Casa Branca a dar início ao processo de remoção do mandatário. ;O comportamento de Trump tem sido cada vez mais instável e volátil. Então, é possível que a 25; Emenda seja invocada pelo vice-presidente Pence e pela maioria do gabinete, se eles avaliarem que o presidente não tem capacidade de ocupar o posto.;
Liberdade para helsea Manning
Ao fim de sete anos de prisão, a ex-militar transexual que entregou ao site WikiLeaks mais de 70 mil documentos confidenciais dos Estados Unidos, causando um escândalo que estremeceu as relações de Washington com importantes aliados, deixa hoje a prisão militar de Fort Leavenworth, no Kansas. Com a identidade de Chelsea Manning e a condição de mulher transgênero, depois de submeter-se a uma cirurgia de mudança de sexo, ela beneficiou-se da comutação da sentença original de 35 anos, medida firmada por Barack Obama nos últimos dias de mandato. ;Pela primeira vez, posso ver um futuro para mim como Chelsea. Posso imaginar sobreviver e viver como a pessoa que sou e, finalmente, posso estar do lado de fora no mundo;, escreveu na semana passada Manning ; que, quando presa, era o soldado Bradley. Hoje com 29 anos, ela deve se hospedar incialmente na casa de uma tia, na região de Washington.