O ciberataque sem precedentes que atinge mais de 150 países desde a sexta-feira alimenta o temores de recrudescimento do vírus e um "cibercaos" na segunda-feira quando computadores forem ligados, estimam especialistas.
"O último balanço chega a mais de 200.000 vítimas, principalmente empresas, em ao menos 150 países. Realizamos operações contra 200 ciberataques por ano, mas nunca havíamos visto algo assim", declarou o diretor do serviço europeu de polícia Europol, Rob Wainwright, à rede britânica ITV.
O ataque ocorreu de "forma indiscriminada" e "se propagou muito rapidamente", acrescentou o diretor da Europol, que teme que o número de vítimas siga crescendo "quando as pessoas voltarem ao trabalho na segunda-feira e ligarem o computador".
"A partir do momento em que a escala é tão grande, devemos nos perguntar se o objetivo é o cibercaos", manifestou Laurent Heslault, diretor de estratégias de segurança na empresa de segurança informática Symantec.
A Microsoft alertou os governos neste domingo a respeito do acúmulo de vulnerabilidades em computadores.
"Os governos do mundo devem tratar este ataque como um alerta", disse o presidente e diretor jurídico da Microsoft, Brad Smith, em uma postagem em que afirma que este é o maior ataque de ransomware já cometido.
Smith ressaltou o perigo de que documentos com informações sensíveis de governos acabem caindo nas mãos de hackers e causando danos generalizados.
"É um cenário equivalente com armas convencionais seria o exército dos EUA terem seus mísseis Tomahawk roubados", comparou.
Ele ressaltou que a Microsoft está solicitando uma "Convenção Digital de Genebra", que exigiria que os governos relatassem vulnerabilidades de computadores aos fornecedores, em vez de armazená-los, vendê-los ou explorá-los.
Da Rússia à Espanha e do México ao Vietnã, centenas de milhares de computadores, sobretudo na Europa, estão infectados desde a sexta-feira pelo vírus "ransomware" (de ;ransom;, resgate em inglês, e ;ware; por ;software;), que explora uma falha nos sistemas operacionais do Windows divulgada nos documentos hackeados da agência de segurança nacional americana NSA.
O vírus bloqueia os documentos dos usuários e os hackers exigem que suas vítimas paguem uma quantia de dinheiro na moeda eletrônica bitcoin (difícil de rastrear) para que possam acessar novamente seus arquivos.
;Poucos pagamentos;
Segundo Rob Wainwright, "houve muito poucos pagamentos até agora", mas não deu valores. De acordo com a Symantec, no sábado ao meio-dia se haviam sido registradas 81 transações no valor total de 28.600 dólares. Posteriormente, a empresa de segurança informática Digital Shadows afirmou que os pagamentos com bitcoin chegaram a 32.000 dólares.
O Departamento de Segurança Interior dos EUA advertiu que "pagar o resgate não garante a restituição dos documentos". Os hackers pedem 300 dólares (em bitcoin) para cada usuário em troca da devolução dos arquivos.
O ataque perturbou o funcionamento dos hospitais britânicos, das fábricas da Renault, da companhia americana FedEx, do sistema bancário russo ou de universidades de Grécia e Itália, entre outros.
A Europol estimou que nenhum país foi particularmente mais afetado. Insistiu ainda sobre a rapidez com a qual foi propagado o vírus "Wannacry".
"Começou atacando os hospitais britânicos antes de propagar-se rapidamente pelo planeta. Quando uma máquina está contaminada, o vírus escaneia a rede local e contamina todos os computadores vulneráveis", explicou o porta-voz da Europol, Jan Op Gen Oorth.
O investigador em cibersegurança britânico de 22 anos que permitiu frear a propagação do vírus alertou neste domingo que os hackers podem voltar à ação mudando o código e que, neste caso, será impossível detê-los.
Os computadores "não estarão seguros até que a correção seja instalada o mais rápido possível", tuitou em sua conta @MalwareTechBlog.
;Salvou o mundo;
A Microsoft reativou uma atualização de determinadas versões de seus programas para enfrentar o ciberataque, que afeta especialmente o Windows XP. O novo sistema operacional Windows 10 não foi atacado.
O investigador, que deseja permanecer no anonimato, foi tratado como um herói que "salvou o mundo" pela imprensa britânica. O jornal Sunday Mail encontrou uma fotografia do jovem, que se dedica ao surfe em seu tempo livre e que vive na casa dos pais, no sul da Inglaterra.
A ministra britânica do Interior, Amber Rudd, advertiu em um artigo publicado no jornal Sunday Telegraph que é possível esperar outros ataques e destacou que "talvez nunca conheçamos a verdadeira identidade dos autores" do ataque de sexta-feira.
"É muito difícil identificar e até mesmo localizar os autores do ataque. Realizamos um combate complicado frente a grupos de cibercriminalidade cada vez mais sofisticados que recorrem à criptografia para dissimular sua atividade. A ameaça é crescente", ressaltou Rob Wainwright.
O serviço de saúde pública britânico (NHS, que conta com 1,7 milhão de funcionários) parece ter sido uma das principais vítimas e potencialmente é o caso mais preocupante devido ao risco para a saúde dos pacientes.
"A vulnerabilidade dos sistemas de saúde pública de vários países nos preocupa há tempos", declarou o diretor da Europol. "Entretanto, vimos que poucos bancos foram afetados porque já aprenderam a lição".