[SAIBAMAIS]Este cenário era muito temido após a onda de atentados jihadistas na França nos últimos dois anos e meio.
Três dos quatro candidatos que aparecem entre os primeiros nas pesquisas de intenção de voto, a líder de extrema-direita Marine Le Pen, o centrista Emmanuel Macron e o conservador François Fillon, cancelaram os compromissos de campanha nesta sexta-feira.
Mas o candidato de extrema-esquerda Jean-Luc Mélenchon, que sonha com uma vaga no segundo turno, decidiu manter sua agenda e afirmou que "a violência não terá a última palavra".
Le Pen, com seu discurso anti-imigração, defendeu a necessidade de retomar "imediatamente" o controle das fronteiras dentro da União Europeia e de expulsar todos os estrangeiros com ficha na polícia por suposta radicalização.
"Esta guerra contra nós é incessante e impiedosa", disse a líder da Frente Nacional (FN), que condenou a "monstruosa ideologia totalitária" por trás do atentado de quinta-feira, cometido por um criminoso reincidente de 39 anos, obcecado com a ideia de atacar as forças de segurança, mas não conhecido como islamita radical.
O governo francês acusou Le Pen de "instrumentalizar para dividir, alimentar sem vergonha o medo com fins exclusivamente políticos".
O centrista Macron, de 39 anos e acusado de falta de experiência para administrar a questão da ameaça terrorista, pediu aos franceses que não cedam ao pânico e advertiu contra qualquer tentativa de capitalizar o ataque.
"Não existe o risco zero. Qualquer um que diga que com ele ou ela não existiria tal risco é irresponsável e mentiroso", disse Macron.
Estado Islâmico
O criminoso abriu fogo com uma arma automática contra uma patrulha da polícia às 21H00 locais de quinta-feira (16H00 de Brasília), provocando uma onda de pânico nas lojas e estações de metrôs próximas.
Dois policiais e uma turista alemã ficaram feridos no tiroteio.
Depois de matar um agente e atingir outros dois nesta movimentada avenida em pleno centro de Paris, muito procurada por turistas, o atirador foi morto pelas forças de segurança.
Perto de seu corpo, as autoridades encontraram um texto manuscrito de defesa do grupo Estado Islâmico (EI).
No veículo de Karim Cheurfi, francês de 39 anos que abriu fogo contra os agentes, também foi encontrado um exemplar do Corão
O EI, responsável pela maior parte dos atentados que deixaram 238 mortos em território francês desde 2015, reivindicou o ataque.
O Amaq, órgão de propaganda do grupo extremista, afirmou em um comunicado que um de seus "combatentes", que identificou como "Abu Yusef, o Belga", foi o responsável pela ação.
Mas de acordo com fontes próximas à investigação, o atirador era o francês Cheurf, que tentou matar um policial há mais de uma década.
Ele havia sido condenado em 2005 por três acusações de tentativa de assassinato, duas delas contra policiais. Três pessoas próximas ao criminoso estavam sendo interrogadas.
A reivindicação do EI gerou em um primeiro momento dúvidas sobre a possibilidade de fuga de um segundo atirador.
As autoridades francesas indicaram nesta sexta-feira que um homem procurado pela polícia belga, que supostamente estava na França desde quinta-feira, se apresentou em uma delegacia da cidade belga de Antuérpia.
Em uma operação na casa do suspeito, a polícia belga encontrou armas, máscaras e uma passagem de trem para a França, marcada para a manhã de quinta-feira.
Impacto nas eleições
No momento é difícil saber qual será o impacto do ataque nas eleições.
"Outro ataque terrorista em Paris. O povo da França não vai aceitar muito mais disto. Terá um grande efeito sobre a eleição presidencial", opinou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no Twitter.
Até agora os eleitores estavam mais preocupados com questões econômicas, como o desemprego ou o poder aquisitivo, mas suas prioridades podem mudar, alertam os analistas.
A França, em estado de emergência desde os atentados de Paris de 13 de novembro de 2015 que mataram 130 mortos, vive com o temor de novos ataques.
No início da semana, as autoridades anunciaram que frustraram um projeto de atentado com a detenção de dois homens em Marselha (sudeste) e a apreensão de armas e três quilos de explosivos.
Os candidatos foram alertados sobre a ameaça e as fotografias dos suspeitos enviadas a seus serviços de segurança.
Ao final de um conselho de defensa extraordinário convocado pelo presidente François Hollande, o primeiro-ministro Bernard Cazeneuve pediu que "nada prejudique o encontro democrático" que os franceses têm no domingo com as urnas, antes do segundo turno de 7 de maio.