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EUA e Rússia expõem divergências após encontro Putin-Tillerson

Essa foi a primeira visita de Tillerson à Rússia desde que assumiu o cargo no início de fevereiro

A Rússia e os Estados Unidos expuseram suas divergências sobre a Síria nesta quarta-feira (12/4), e mais amplamente os receios que prevalecem entre ambos, apesar de uma reunião entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o secretário de Estado americano, Rex Tillerson.

Em sua primeira visita à Rússia desde que assumiu o cargo no início de fevereiro, Tillerson se reuniu durante várias horas com seu contraparte russo, Serguei Lavrov, e com Vladimir Putin, embora este encontro não estivesse programado.

Mas, ainda que Moscou e Washington afirmassem estar dispostos a tentar superar seu "baixo nível de confiança" para realizar uma "luta implacável contra o terrorismo", segundo as palavras de Lavrov, os responsáveis pela Diplomacia de ambas as potências mostraram, principalmente, que divergem no essencial: a responsabilidade do governo sírio no suposto ataque químico de Khan Sheikhun, em 4 de abril, e sobre o futuro do presidente sírio, Bashar al-Assad.

Tillerson defendeu a saída "de forma organizada" do presidente sírio, enquanto seu homólogo russo insistiu no caos criado quando "ditadores" anteriores deixaram o poder.

"Apesar da quantidade de problemas existentes, [...] há perspectivas consideráveis de trabalharmos juntos", assegurou Lavrov, dizendo estar "aberto ao diálogo" em todos os âmbitos.

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Mas, em um incomum sinal de concordância, "o presidente Putin confirmou estar disposto a restabelecer" o acordo de prevenção de incidentes aéreos em vigor na Síria, que Moscou suspendeu após o bombardeio americano a uma base área do governo de Damasco.

Tillerson também indicou que Moscou e Washington prepararão "grupos de trabalho para os problemas menores [...] para que nós possamos nos ocupar dos problemas mais sérios".

Piora

Horas antes de receber o alto funcionário americano, Putin declarou que as relações entre Moscou e Washington estavam em situação pior do que na época da presidência de Barack Obama.

Os responsáveis de ambos os países se enfrentaram em declarações nos últimos dias sobre o ataque de Khan Sheikhun, e após a mudança de posição do presidente americano ao ordenar o primeiro bombardeio contra o exército sírio desde o início do conflito, há seis anos.

Enquanto a administração americana considera que "não há dúvidas" de que o governo de Damasco seja o responsável do suposto ataque químico, a Rússia insiste que não existe nenhuma prova que demonstre a autoria de Damasco.

A visita de Tillerson à Rússia deve servir para assentar as bases da "normalização" das relações entre ambos os países, prometida por Trump durante sua campanha eleitoral.

No início da reunião com seu homólogo americano, Lavrov afirmou que a Rússia quer compreender "as verdadeiras intenções" dos Estados Unidos para evitar uma "repetição" do bombardeio americano na Síria, e trabalhar na criação de uma "frente comum contra o terrorismo".

Votação na ONU

Ao mesmo tempo, Estados Unidos, França e Reino Unido apresentaram ao Conselho de Segurança um novo projeto de resolução que pede a cooperação do governo sírio em uma investigação sobre o ataque.

A diplomacia russa utilizou seu direito ao veto, como havia prometido caso não modificassem o projeto de resolução que chamaram de "inaceitável".

Antes da votação, a embaixadora americana na ONU, Nikki Haley, declarou que os Estados Unidos estavam "dispostos a colaborar para pôr fim ao conflito", enquanto o enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, exortou Washington e Moscou a se entenderem.

A visita de Tillerson antecede um encontro tripartido que ocorrerá no fim desta semana, em Moscou, entre Lavrov e os chefes da diplomacia síria, Walid Muallem, e iraniana Mohamad Javad Zarif.

A chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Federica Mogherini, encerrará em 24 de abril esta série de encontros diplomáticos, no que representará sua primeira viagem oficial à Rússia.

No terreno, começou a aplicar um acordo para evacuar quatro cidades sírias cercadas. Cerca de 30.000 pessoas devem sair de duas localidades da província de Idlib, nas mãos do governo, e de dois encraves rebeldes cercados pelas forças governamentais na província de Damasco.