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Moreno e Lasso comemoram vitória após pesquisas de boca de urna no Equador

Lasso, ex-presidente do Banco de Guayaquil, fez um discurso de cerca de 15 minutos em sua cidade natal


Segundo a empresa Perfis de Opinião, que certos setores associam ao governo, o ex-vice-presidente Moreno, do governista Aliança País (AP), ganharia com 52%,2 dos votos.

Já segundo a o instituto Cedatos, que o governo tacha de opositor, o conservador Lasso, do Criando Oportunidades (Creo), venceria com 53,02% dos votos.

Após a divulgação das pesquisas de boca de urna, minutos depois do fechamento das urnas, às quais estavam convocados 12,8 milhões de equatorianos, ambos os candidatos comemoraram a vitória.

"Os dados estão claros, são os dados que nós temos (os da Perfis de Opinião), completamente confiáveis. Temos uma vantagem muito significativa", disse Moreno, que levanta a bandeira das causas sociais por conta de sua paraplegia, fruto de um tiro que levou durante um assalto em 1998.

"Depois de que o Conselho Nacional Eleitoral dê seu veredito final, nós festejaremos esta vitória que, de acordo com a pesquisa na qual confiamos, nos deram", acrescentou.

Lasso, ex-presidente do Banco de Guayaquil, fez um discurso de cerca de 15 minutos no porto de Guayaquil, sua cidade natal, no sudoeste do Equador. "Ganhamos, ganhou a democracia, ganharam todos vocês", afirmou.

Estas eleições marcam o fim do mandato de Rafael Correa, o presidente que graças ao "boom" petroleiro modernizou com seu "socialismo do século XXI" um país com fama de ingovernável, e são vistas como um novo teste para a esquerda latino-americana, após a guinada à direita que ocorreu recentemente em países como Brasil, Argentina e Peru.

O resultado também será fundamental para o fundador do WikiLeaks, o australiano Julian Assange, mantido pelo governo de Correa na embaixada do Equador em Londres desde 2012.

No primeiro turno, em 19 de fevereiro, dia em que também ocorreram as eleições legislativas, a base governista assegurou a maioria absoluta com 74 cadeiras de um total de 137, quando atualmente ostenta dois terços. Uma eventual vitória opositora poderia dificultar a governabilidade do país.


"Alguém está mentindo"


Seguidores de ambos os candidatos se concentraram para esperar a apuração oficial e comemorar perto da sede do CNE, enquanto Correa parabenizava os equatorianos por esta "jornada cívica".

"Infelizmente, duas pesquisas de boca de urna dão resultados absolutamente contraditórios. Alguém está mentindo. É preciso esperar os resultados oficiais do CNE. Enquanto isso, mantenhamos a calma, a unidade e a paz", escreveu o presidente no Twitter.

Especialistas lembram que o próximo presidente encontrará um país afetado pela queda prolongada do preço do petróleo, endividado, com desemprego crescente e caríssimo para o consumidor.

"Ambos terão que fazer algum tipo de ajuste, já que se endividar mais é cada vez mais difícil. Lenín poderia vir com mais impostos, mas isso o colocaria em tensão com alguns setores. Lasso poderia reduzir o gasto social ou o tamanho do Estado", explica à AFP o cientista político Esteban Nicholls, da Universidade Andina do Equador.

Pela primeira vez em 10 anos sem Correa como candidato, que é acusado pela oposição de ter esbanjado a maior bonança petroleira do país, o AP tenta permanecer no poder com Moreno.

Com um estilo mais conciliador que o de Correa, Moreno conta com a figura do atual presidente, a capacidade de mobilização de seu partido e o voto dos setores populares, beneficiários dos programas sociais impulsionados durante a bonança petroleira.

Seu programa privilegia o investimento social sem "pacotes nem privatizações" e um exame minucioso da corrupção, um tema sensível para os eleitores, após escândalos como o da Petroecuador - que envolveu um ex-ministro de Correa - e as supostas propinas milionárias da empreiteira Odebrecht a funcionários equatorianos.

Lasso, a quem o governo assinala como um dos responsáveis pela crise bancária que em 1999 obrigou três milhões de equatorianos a emigrarem, conta com o apoio da classe alta, com o descontentamento da classe média (antes boa parte correísta) e tem o apoio explícito dos líderes de outros partidos opositores.