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Eleição do Equador será definida neste domingo

Um dos últimos governos de esquerda na América do Sul joga hoje sua chance de continuidade na sucessão de Rafael Correa. A oposição aposta nos ventos de direita que sopram na região para imprimir um rumo de mudanças

Todos os olhares da América do Sul se dividem hoje entre a Venezuela, em grave crise política, o Paraguai, onde a reeleição causa revolta, e o Equador, que escolhe hoje o sucessor do presidente Rafael Correa. A depender do resultado do segundo turno, o país poderá consolidar a guinada da região para a direita ou garantir o legado correísta e novo fôlego para a esquerda. De um lado, o direitista Guillermo Lasso, que se apega à promessa de mudanças para seduzir o eleitorado. Do outro, o esquerdista Lenín Moreno, apadrinhado político de Correa.

[SAIBAMAIS]Com uma população de 16,4 milhões de habitantes e um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 182,4 bilhões, o Equador volta às urnas mergulhado em um imenso deficit fiscal e na recessão. Apesar de as últimas pesquisas terem dado ligeira vantagem para Moreno, especialistas não arriscam projeções e admitem a possibilidade de empate técnico. ;Não existe clareza. As sondagens têm sido muito contraditórias, de modo que é muito arriscado assegurar que já haja um ganhador;, explicou ao Correio Simón Pachano, professor de ciência política na Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso).

Pachano associa o prosseguimento do projeto político impulsionado há uma década por Correa à principal causa de apoio a Moreno. ;Em termos concretos, a campanha beneficiou-se da atividade desenvolvida pelo governo. A proposta de Lasso que mais atrai é a possibilidade de mudança. Portanto, existe um enfrentamento muito claro entre continuação e mudança;, disse Pachano. ;Se Lasso triunfar, haverá transformações importantes, pois tal cenário debilitaria o denominado socialismo do século 21. Possivelmente, o Equador abandonaria a Alba (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América) e daria menos importância à Unasul (União de Nações Sul-Americanas);, acrescentou.

Polarização

Em entrevista ao Correio, Guillermo Lasso diz apostar na chance de vitória e lembra que as pesquisas mais recentes do instituto Cedatos lhe dão vantagem. ;Eu tenho escutado os problemas dos equatorianos e sei que o que desejam é uma mudança. Uma transformação que lhes permita trabalhar e que respeite a sua liberdade. Por isso, no âmbito econômico, nossa proposta principal é gerar 1 milhão de empregos em quatro anos, com facilidades para empreender, crédito para o agronegócio, eliminação de impostos e novos acordos de comércio;, explicou, por e-mail.

De acordo com Lasso, o correísmo representa um modelo insustentável economicamente, que carrega ;terríveis repercussões sociais e políticas;. ;O modelo se baseia na polarização e na divisão, quando todos somos parte de um mesmo país e assim nos reconhecemos. O que este governo deixa é um prontuário de ataques aos direitos fundamentais, como a liberdade de expressão e de associação e, especialmente, a corrupção sem precedentes;, critica. Ele promete melhorar as relações com o Brasil e os demais países da América do Sul e priorizar a integração comercial e a cooperação.

A reportagem tentou entrar em contato com Moreno, mas não teve resposta. Em seu perfil no Twitter, o esquerdista anunciou que, em 24 de maio, começará um ;governo de unidade, estabilidade e experiência;. O ex-vice-presidente de Correa se aferra ao discurso populista para angariar votos e chegar ao Palácio de Carondelet. Além de prometer educação e saúde para todos, pretende construir 325 mil casas. ;Que não haja um só equatoriano sem moradia;, defendeu.

Influência

Arturo Moscoso-Moreno, cientista político da Universidad San Francisco de Quito, acredita que o vencedor do segundo turno terá vantagem de menos de três pontos percentuais. ;O peso da gestão de Correa pode influenciar na eleição, mas também ser contraproducente, pois Moreno poderia ser visto como títere do atual presidente;, alerta. ;Se Lasso for eleito, confirmaremos que na América do Sul se vive um retorno do pêndulo da esquerda para a direita, seguindo o triunfo de Mauricio Macri, na Argentina; a oposição dominando a Assembleia Nacional, na Venezuela; e a destituição de Dilma Rousseff, no Brasil.; Em caso de vitória de Moreno, Arturo prevê algum grau de liberalização das políticas econômicas do esquerdista. ;A situação das finanças em nosso país não permitirá ao Estado seguir desempenhando papel importante na economia.;

Professor de ciência política da mesma universidade, Paolo Moncagatta adverte que, no Equador, a ideologia não é fator preponderante na análise do comportamento eleitoral. ;Esta eleição, assim como as anteriores, tem a ver mais com a situação econômica dos cidadãos e do país;, observa. Segundo ele, as propostas de Moreno que mais atraem os eleitores estão ligadas às políticas sociais impulsionadas pelo governo Correa: investimentos importantes em educação, em saúde pública e em infraestrutura. ;Pelo lado de Lasso, as propostas mais atraentes são a oferta de criação de empregos, com a liberalização da economia; a redução e eliminação de impostos; o enxugamento do Estado; e a fiscalização dos graves casos de corrupção em que, supostamente, o governo Correa está envolvido, como a ;lista da Odebrecht;.